terça-feira, 28 de abril de 2009

Na cozinha

Um padre também come! E se não tem quem cozinhe tem que cozinhar (que remédio!). E hoje foi um dos dias em que cozinhei. Tinha decidido que ia fazer uma sopa mas mudei de ideias e optei por fazer um arroz seco e uma pescada cozida em tomate a acompanhar. O acto de cozinhar acaba por ser, sempre, um manancial de cheiros e de cores. O azeite, a cebola e o tomate fazem delícias na boca, na panela e no nariz. Que bom!
Quando cozinho sinto mais prazer em fazê-lo que em comer. Quando tenho tudo pronto na mesa (para comer) parece que já perdi o apetite. Comer sozinho numa mesa que têm seis cadeiras é dos actos mais dramaticos que se pode ter. Comer é um acto comunitário e fazê-lo sozinho parece contraditório e até 'imoral'. Haverá maior solidão que uma pessoa sozinha a almoçar ou a jantar? Creio que não!
Ser padre, em muitas circunstâncias, é viver na solidão, por muito que não pareça. Contactamos com muita gente mas chegamos a casa e não encontramos ninguém; vamos a um restaurante e parodoxalmente estamos sozinhos numa mesa para mais dois ou três e rodeados de 'muitos' dois, três ou quatro; Queiramos ou não é assim! Uma solidão permanentemente acompanhada (acreditamos).

domingo, 26 de abril de 2009

São Nuno de Santa Maria

A Igreja reconhece e declara como venerável o português Nuno Álvares Pereira. Este santo que viveu no século XV é para nós um exemplo concreto e claro de como podemos encarnar o Evangelho na nossa vida diária.
De senhor reconhecido e militar comprovado do reino fez-se um pobre frade carmelita. Não deu o que lhe sobravava ou o muito que tinha mas deu-se a ele próprio.
Por isso mesmo é para o povo o santo Condestável; foi celebrado como santo e herói por ilustres poetas como Luís de Camões, em “Os Lusíadas”, que evoca o santo na frase «Ditosa Pátria que tal filho teve».
É esta mesma 'pátria' de que ele é 'fundador' e construtor que esquece a sua personalidade e a sua vida e quase se envorgonha com o reconhecimento da sua santidade. Uma pátria e um país precisam de heróis e de símbolos que fortaleçam a identidade e a unidade de um povo. De contrário caminha cada um para seu lado (que é o que realmente se passa) a caminho do nada!

O 25 de Abril visto hoje!

Em Portugal, o 25 de Abril carrega sobre si muitos sentimentos, muitos gestos, muitas memórias; nem todos se conjugam ou encontram e é nesta encruzilhada que todos vivemos.
A semana passada visitei o Alentejo e, em tudo quanto era canto, havia referência ao 25 de Abril como libertação. Consoante ia vendo e revendo os programas festivos, os cartazes alusivos e observava os rostos de quem passava mais me convencia de que essa 'dita libertação' tinha sido um fracasso. Mas afinal, a partir daí as pessoas não podiam dizer e fazer o que queriam? Podiam até certo ponto! O problema foi que o entusiasmo e o idealismo do pré 25 de Abril morreu poucos dias depois de ter sido concretizado.
A mudança nunca se opera começando por fazer o mesmo que os outros nos fizeram a nós nem com a mudança desmedida de monopólios. A mudança constroi-se com o perdão que regenera e faz raiar uma nova manhã. É essa nova manhã de esperança e de compromisso responsável que todos deveriamos procurar construir. O nosso problema é que vivemos e alimentamos a inveja e pouco fazemos para levantar as amarras do nosso barco preso ao cais e partir para novas aventuras. O sonho e o ideal morreu e apenas resta um arrastar-se agonizante de um país que se ocupa com o inútil e o fútil salpicado, poucas vezes, com momentos de lucidez de poucos que caminham com rumo.
Aproveitemos o que o 25 de Abril de 1974 nos deu e tenhamos coragem de cortar as amarras que nos prendem e caminhemos em direcção ao futuro.

domingo, 19 de abril de 2009

Reflexos da Visita Pascal!

No Domingo (Castro Laboreiro) e na Segunda (Castro Laboreiro/Lamas de Mouro) de Páscoa, como habitual, andei de casa em casa no Compasso Pascal, a levar a feliz notícia da Ressurreição. Em Castro Laboreiro de Portelinha aos Portos, do Rodeiro ao Ribeiro de Baixo as casas abriram as suas portas para receber a visita pascal. Em ambiente descontraído, eu, o Helder de caldeira e campaínha na mão, o Silvestre com a Cruz engalanada de belas flores e o Sr. Américo a conduzir percorremos ruas, caminhos e vielas contagiados, em alguns lugares, com a companhia de muitas pessoas que connosco levavam aos seus vizinhos as saudações e a lembrança de Jesus ressuscitado.
Muitas foram as imagens, os cheiros, os afectos que exprimentei por estes dias. Nuns lugares, vida e alegria, noutros, casas fechadas e em ruínas a transparecer tempos idos. Em determinados momentos imaginei todos os lugares cheios de vida e de gente. Mas não é assim e não voltará a ser certamente.
Caminhamos para a frente e não para o passado mas importa perceber e preservar o passado como memória colectiva que funda e fundamenta uma comunidade. Não nos fiquemos por tradições sem sentido mas procuremos as razões que fundamentam as tradições; só assim fará sentido mantê-los e talvez adaptá-las às nossas circunstâncias e realidades. Importa manter a memória colectiva como caminho de identificação e de crescimento contínuo com base no conhecimento das nossas raízes e nunca como amarra ao passado que não deixa caminhar para o futuro. Feliz Páscoa!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Semana Santa

Estamos a viver liturgicamente a Semana Santa ou semana Maior. Neste tempo a Igreja celebra e convida toda a humanidade a celebrar os mistérios fundamentais da fé cristã: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
A grande novidade e a grande contribuíção do Cristianismo para a humanidade é a fé e o conceito de Ressurreição. Para os cristãos a vida não é tida como um acidente (concepção grega e oriental da vida) mas como uma graça concedida por Deus.
A Ressurreição conduz a uma perspectiva positiva da vida, no sentido que é a eternidade em Deus da vida que começamos a viver aqui no no nosso existir (a vida entendida como construção contínua).
Para este encontro com Deus a Igreja propõe aos fiéis que celebram o Sacramento da Reconciliação ou Sacramento da celebração do acolhimento do amor de Deus. (Este Sacramento tantas vezes mal amado, mal vivido e mal explicado é uma oportunidade de crescimento interior a nível pessoal, psicológico, espiritual e humano, pois permite parar e reflectir a própria vida com a ajuda de um sacerdote e com a abundância da graça de Deus).
Preparemo-nos para viver com graça estes mistérios fundamentais da nossa fé!