domingo, 29 de novembro de 2009

Um Domingo com neve

Hoje nevou pela primeira vez este Inverno. Acordei com um manto branco a entrar-me pela janela. A sua luminosidade tudo envolvia.
Levantei-me e celebrei Eucaristia na igreja de Castro Laboreiro; telefonei para a Gavieira e para o Santuário da Peneda a comunicar que não ia celebrar.
Lareira acesa e cozinhei um excelente frango (ainda não sei como saiu tão bom (!) ou será da neve e do frio?).
Durante a tarde estive a trabalhar com a serenidade dos flocos de neve a cair e com o crepitar do lume na lareira. Há dias assim!

sábado, 28 de novembro de 2009

V - Um novo caminho para a sociedade

No último encontro dirigimos o nosso olhar sobre a sociedade em que vivemos tendo em conta três características (entre muitas possíveis): ‘aldeia global’; ‘a sociedade de consumo’; ‘política (bem público) e o futebol’. Hoje vamos perspectivar possibilidades de uma regenerada (novamente gerada) sociedade. Comunidade Global Passar da ‘aldeia global’ no que tem de indiferentismo e todas as outras possibilidades negativas (porque também tem positivas) para uma comunidade global. A comunhão como matriz identificadora da sociedade. Uma comunidade que é alimentada de pequenas comunidades que interagem entre si e constroem a grande comunidade global. A comunidade pressupõe a comunhão de princípios e objectivos que não são o somatório dos objectivos de cada um mas que são aqueles que a comunidade no seu todo identifica como tais. A comunidade global pressupõe a igualdade que leva à comunhão, nesta lógica ninguém domina porque apenas interessa o bem comum. A divisão tem que dar lugar à união no sentido da comunhão que acolhe a diferença e a diversidade. Sociedade da caridade (solidariedade) A comunhão conduz à caridade (conceito cristão – caritas/amor – Deus é amor - irmandade) ou a solidariedade (conceito laico – perspectiva da obrigação/humanismo) e não permite o consumo desenfreado de alguns e a morte à fome de muitos. Agir com caridade é reconhecer as minhas necessidades e as do próximo – partilha de necessidades e partilha de bens. Isto contribui para o equilíbrio da sociedade. Porquê? Porque diminui o fosso entre ricos e pobres e promove o crescimento contínuo da sociedade. Não quer dizer que acabam os ricos e os pobres (essa foi a tentação ou a utopia comunista que falhou a todos os níveis) mas que a riqueza está ao serviço de todos e não apenas de alguns. Um empresário que coloca os seus bens, o seu dinheiro ao serviço de todos promovendo o trabalho com salários justos está a desenvolver e o contribuir para o bem comum. Parafraseando um provérbio chinês – não dês peixe mas ensina a pescar – é talvez o que é mais necessário e mais difícil na nossa sociedade. Palavra de Deus “O sogro de Moisés disse-lhe: «Não está bem aquilo que estás a fazer. Com certeza desfalecerás, tu e este povo que está contigo, porque a tarefa é demasiado pesada para ti; não poderás realizá-la sozinho. Agora, escuta a minha voz; vou dar-te um conselho, e que Deus esteja contigo! Tu estarás em nome do povo em frente de Deus, e tu próprio levarás as causas a Deus. Adverti-los-ás dos preceitos e das instruções e dar-lhes-ás a conhecer o caminho que devem seguir e as obras que devem praticar. Escolhe tu mesmo entre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, homens íntegros, que odeiem o lucro ilícito, e estabelecê-los-ás como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez. Eles julgarão o povo em todo o tempo. Toda a questão que seja grande, eles a apresentarão a ti, mas toda a questão menor, julgá-la-ão eles mesmos. Torna assim mais leve a tua carga, e que eles a levem contigo. Se fizeres desta maneira, e se Deus to ordenar, tu poderás permanecer de pé, e também todo este povo entrará em paz nas suas casas.» Moisés escutou a voz do seu sogro e fez tudo o que ele disse. Moisés escolheu de todo o Israel homens capazes e colocou-os à cabeça do povo, como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez. Eles julgavam o povo em todo o tempo: as questões difíceis levavam-nas a Moisés, mas todas as questões menores julgavam-nas eles mesmos” [Ex 18,17-26]. “Ao regressarem, os Apóstolos contaram-lhe tudo o que tinham feito. Tomando-os consigo, Jesus retirou-se para um lugar afastado, na direcção de uma cidade chamada Betsaida. Mas as multidões, que tal souberam, seguiram-no. Jesus acolheu-as e pôs-se a falar-lhes do Reino de Deus, curando os que necessitavam. Ora, o dia começava a declinar. Os Doze aproximaram-se e disseram-lhe: «Despede a multidão, para que, indo pelas aldeias e campos em redor, encontre alimento e onde pernoitar, pois aqui estamos num lugar deserto.» Disse-lhes Ele: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Retorquiram: «Só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que vamos nós mesmos comprar comida para todo este povo!» *Eram cerca de cinco mil homens. Jesus disse aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta.» Assim procederam e mandaram-nos sentar a todos. Tomando, então, os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que os distribuíssem à multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e, do que lhes tinha sobrado, ainda recolheram doze cestos cheios” [Lc 9,10-17]. Pistas de interpretação Texto 1: o sogro de Moisés (Jetro) sugere a descentralização e a partilha do poder: prepara-se uma relação social baseada na liberdade, na vida e na dignidade de todos diante de todos e de Deus. O Antigo Testamento preconiza uma sociedade igualitária onde a única autoridade é a Deus que liberta para a vida. Texto 2: os apóstolos que são o início de uma nova comunidade têm como missão perceber e socorrer o povo que passa fome e de sugerir com o exemplo a parilha de bens. Deus do pouco faz muito. O pão da Eucaristia sendo pouco torna-se muito (pleno) pela presença real de Jesus Cristo. A Eucaristia é dom de Deus para a humanidade. Questões: Estas pistas de uma nova sociedade fazem sentido? Já fizeste alguma coisa para construir uma nova sociedade? Conheces algum grupo ou movimento que esteja empenhado em construir uma nova sociedade? Apresenta as tuas ideias sobre a (nova) sociedade (mínimo 20 linhas). Próximo encontro no dia 12 Dezembro às 21h;
[Texto realizado para o encontro de formação para a Celebração do Sacramento da Confirmação - Melgaço]

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

I(e)srael e Jordania

Duas imagens (Petra - uma das 7 maravilhas do mundo - e o Muro das Lamentações; dois paíes (Israel e Jordania); duas religiões (judaica e muçulmana);
Um padre católico usdando símbolos religiosos e etnográficos em sinal de respeito. Culturas tão diferentes e tão próximas.
Os sete dias em Israel e na Jordania foram cheios de emoções, de cheiros, de cores, de sabores ... outro dia voltaremos a falar sobre isto.

domingo, 15 de novembro de 2009

São Martinho

É tempo da castanha
A alegria do povo
Que rega e acompanha
Com vinho novo
Nos últimos dias, a castanha tem sido raínha nos magustos de São Martinho. A chuva e o vento que este fim de semana nos visitaram relembram o acto maios conheciso e simbólico de Martinho - a dádiva de metade da sua capa a um pobre mendigo num dia de chuva (que ele identificou com Cristo). São Martinho é para nós sinal e exemplo do dar-se, da caridade que nasce do amor a Cristo. Que por entre as castanhas e o vinho novo nos fique esta mensagem!

sábado, 14 de novembro de 2009

IV - Um olhar sobre a sociedade

Nos últimos encontros reflectimos sobre a nossa identidade enquanto pessoas. Vimos que a identidade da pessoa está em permanente construção e que vários são os factores que concorrem para a construção da identidade. Neste contexto hoje vamos olhar para a realidade que nos rodeia, na qual vivemos e estamos inseridos. Focamos apenas três questões mas muitas outras poderiam ser abordadas.
Aldeia Global Vivemos na chamada ‘aldeia global’ em que as situações, os dramas e as alegrias do mundo nos entram pelos olhos dentro quando estamos no sofá a descansar, quando estamos no trabalho ou quando vamos na rua. Entram-nos nos olhos pelos meios de comunicação em massa: televisão, internet, jornais, rádio, entre outros. O nosso olhar habitua-se a ver o que quer ver e o que não quer; os nossos ouvidos escutam o que querem e o que não querem. Vemos e ouvimos e nem paramos para pensar sobre isso. Os meios de comunicação podem passar de uma imagem de profunda pobreza em África a um desfile de moda em Paris numa fracção de segundos. Entram-nos as imagens sem contexto (por vezes, com texto truncado, preconceituoso e pobre) e nós habituamo-nos a vê-las sem fazer distinção. O drama da pobreza em África ou o desfile de moda em Paris produzem o mesmo efeito em nós sendo situações completamente diferentes. Com este processo tornamo-nos indiferentes porque tudo parece estar tão perto e tão longe; tudo vem e vai a uma velocidade estonteante. Somos bombardeados com informação e nem sequer temos tempo para a formatar. Tantas vezes, a indiferença perante as situações é transportada do virtual para o real – parece-nos a mesma coisa!
A sociedade de consumo Vivemos em plena sociedade de consumo produzida e perpetuada pela maior parte dos meios de comunicação em massa. Grande parte dos meios de comunicação está nas mãos de grandes grupos económicos que apenas pretendem aumentar o lucro. Assim, importa ter dinheiro a qualquer custo para poder ‘reinar’ nesta realidade que cria desejos e a sua satisfação continuamente numa situação de eterno retorno na lógica do desejo e da satisfação. Diante deste panorama cresce o número de excluídos, de dominados e subjugados pelo sistema que entram em desanimo e em depressão.
Política (bem público) e o futebol A política gira dentro da ‘sociedade de consumo’ e da ‘aldeia global’, como em tudo, com as vantagens e desvantagens inerentes. A política como serviço do bem público, muitas vezes, fica de lado e é dominada pela corrupção – pelo serviço de alguns. Isto acontece porque as pessoas (que constituem a sociedade) se demitem de reflectir sobre as acções dos seus políticos e de exigir mais e melhor serviço público. Portugal vive em crise desde há muito tempo porque os seus cidadãos se demitem de se inscrever (José Gil) nos actos da comunidade. Crise esta que dentro da ‘aldeia global’ se atira para a crise mundial. Nós não temos culpa! Limitamo-nos a reagir e nunca a agir no tempo oportuno. Os cidadãos - que são os habitantes de um país – são os responsáveis pelo andamento (ou não) desse mesmo país. Os portugueses demitiram-se de olhar para o seu país; demitiram-se de discutir o que é fundamental em política de investimentos, de mercado de trabalho, de economia e finanças e digladiam-se em questões marginais. Basta ver, neste contexto, quais são as prioridades do nosso governo (legalizar o casamento gay). E as questões fundamentais? Em Portugal existem 3 ou 4 jornais diários desportivos (futebol) que são dos mais lidos (a par de outras tantas revistas cor de rosa). O futebol discute-se em qualquer canto – em certos lugares com discussões bem acesas e azedas. Se os portugueses lessem e discutissem com tanto entusiasmo as questões politicas e económicas do nosso país como isto seria diferente. Confesso que gosto de futebol e do meu Benfica. Mas poderá o futebol ocupar o lugar central do meu dia, das minhas discussões e dos meus interesses? Para mim não!
Palavra de Deus "Jesus percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. - Disse, então, aos seus discípulos: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe» " (Mt 9, 35-38).
"Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles devia ser considerado o maior. Jesus disse-lhes: «Os reis das nações imperam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. 26Convosco, não deve ser assim; o que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve. Vós sois os que permaneceram sempre junto de mim nas minhas provações" (Lc 22, 24-28).
Questões: Esta descrição corresponde à realidade? Já tinhas pensado sobre isto? Apresenta a tua visão da realidade fazendo o contraponto com os dois textos da Palavra de Deus (mínimo de 20 linhas).
Próximo encontro no dia 28 de Novembro às 21h;
[Texto realizado para o encontro de formação para a Celebração do Sacramento da Confirmação - Melgaço]

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Felizes os que andam no Senhor

Deus que é amor (1 Jo, 8), criou-nos para o amor e para a felicidade. Deus quer-nos felizes porque nos ama. A felicidade é o nosso objectivo de vida. Ninguém em perfeita saúde mental quer ser infeliz. A felicidade é posta de parte pelo pecado, pela ausência de Deus. Jesus encarnou, sofreu a paixão, morreu e ressuscitou para nos oferecer a possibilidade de sermos felizes. "Na sua carne crucificada, a liberdade de Deus e a liberdade do ser humano juntaram-se definitivamente num pacto indissolúvel, válido para sempre. Também o pecado do ser humano ficou expiado, uma vez por todas, pelo Filho de Deus" [Bento XVI, Sacramento da Caridade, nº 9]. A ressurreição orienta e sustenta o nosso desejo de felicidade. A felicidade é dom, é dádiva e cabe a cada um de nós acolhê-la ou não em liberdade. "A felicidade faz parte da nossa fé. (…) Se a fé é um compromisso com Deus, a felicidade é também o seu fruto" [Marcovits, 2008, p.5]. A Sagrada Escritura tem muitas expressões começadas por ‘felizes’ – cerca de uma centena. Alguns exemplos:
"Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria!" (1 Rs 10,8). "Feliz aquele a quem é perdoada a culpa e absolvido o pecado. Feliz o homem a quem o SENHOR não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano" (Sl 32,1-2). "Feliz o homem que confia no SENHOR" (Sl 40,5). "Felizes os que crêem sem terem visto!" (Jo 20,29). "Feliz o homem que resiste à tentação, porque, depois de ter sido provado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam" (Tg 1-12).
São pequenas frases, são "portas laterais da vida cristã" [Marcovits, 2008, p.6+ mas que devem ilustrar e animar a nossa vida de crentes. "São marcas de referência concretas, simples, humanas, frequentemente optimistas sobre o caminho que conduz a Deus e à felicidade de sermos todos irmãos e irmãs. São uma arte de viver" [Marcovits, 2008, p.6]. Neste contexto o Sermão da Montanha ou o Sermão das Bem-aventuranças (Mt 5, 1-12; Lc 6, 20-23) são as mais conhecidas. Elas são como que um resumo das Escrituras. Como diz o Catecismo da Igreja Católica "as bem-aventuranças estão no coração da pregação de Jesus" (CIC nº 1716). É a nova Lei, o novo código ético que Jesus entrega aos seus discípulos e que os discípulos entregaram aos nossos pais de geração em geração e que são o tesouro, a herança que nos cabe guardar, preservar e transmitir às novas gerações.
"Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu" (Mt 5,3)
Jesus declara que o Reino do Céu será dos pobres. Naquela época, como na nossa, proclamava-se bem-aventurada a riqueza e não a pobreza. No entanto cresce no seio do judaísmo a convicção de que os pobres (anawim) que vivem sob o domínio dos poderosos se viverem honestamente e praticarem a justiça serão recompensados por Deus. "A pobreza bem-aventurada deve ser acompanhada e determinada pela simplicidade de coração, pela convicção profunda da necessidade que o homem (o ser humano) tem de Deus, pela integridade de vida, pela abertura aos outros" [Comentários à Bíblia Litúrgica, p. 804]. A pobreza interior é condição para entrar no Reino porque o pobre abre o coração à dádiva, encontra-se disponível para receber.
Felizes os que choram porque serão consolados (Mt 5,4)
Deve entender-se esta bem-aventurança à luz da consolação trazida pelo Messias Salvador, por Jesus. Ele vem consolar todo o sofrimento humano. Vem resgatar-nos do pecado (entenda-se como tudo o que nos afasta de Deus) – causa do sofrimento. Jesus venceu o pecado, a dor, a morte, particularmente, no momento da Ressurreição. "Consolai, consolai o meu povo, é o vosso Deus quem o diz" (Is 40,1). O nosso Deus é um Deus misericordioso disposto a enxugar todas as nossas lágrimas - na tribulação, no choro, a esperança e a confiança da presença amorosa de Deus. Em jeito de conclusão: a felicidade (verdadeira) vem do amor que Deus deposita em cada um de nós ao qual correspondemos. Como Catequistas somos transmissores, anunciadores e testemunhas do amor de Deus. O nosso optimismo, a nossa confiança são fruto da nossa fé e da nossa confiança amorosa em Deus.
Bibliografia: Bíblia Sagrada; Catecismo da Igreja Católica; Bento XVI, Sacramento da Caridade - Exortação Apostólica pós-sinodal, Ed. Paulinas (2007); As pequenas Bem-aventuranças, Paul-Dominique Marcovits, Paulus Editora (2008);
[Texto realizado para Encontro de Espiritualidade com Catequistas – Arcos de Valdevez]