sábado, 27 de março de 2010

O 'Servo'

«O Senhor DEUS ensinou-me o que devo dizer, para saber dar palavras de alento aos desanimados. Cada manhã desperta os meus ouvidos, para que eu aprenda como os discípulos. O Senhor DEUS abriu-me os ouvidos, e eu não resisti, nem recusei. Aos que me batiam apresentei as espáduas, e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me ultrajavam e cuspiam. Mas o Senhor DEUS veio em meu auxílio; por isso não sentia os ultrajes. Endureci o meu rosto como uma pedra, pois sabia que não ficaria envergonhado" [Is 50, 4-7]. Este pequeno trecho do profeta Isaías é uma preciosidade! Um servo/discípulo tem como missão levar a esperança aos que estão abatidos; levar a luz ao que anda cambaleando nas trevas. A primeira possibilidade que lhe surgiu foi a de desistir mas foi capaz de resistir. A consequência de ter resistido foi o insulto moral e corporal. Quem resiste, quem se mantém fiel, quem confia sabe que Deus está do seu lado, a seu lado. Jesus encarna e concretiza esta profecia de Isaías; não fiquemos apenas a contemplar mas escutemos a Palavra de Deus e façamos dela uma tradução viva, a nossa existência. UMA SANTA SEMANA SANTA!

sexta-feira, 26 de março de 2010

XIII - O Domingo, Dia do Senhor, e a Eucaristia

O Domingo não é continuação do Sábado judaico ou um dia de descanso mas a sua origem está na Ressurreição de Jesus; na Eucaristia dominical nós celebramos ou fazemos memória e tornamos presente a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. DOMINGO Este dia tem cunho cristão, está marcado pela Ressurreição como podemos verificar nos Evangelhos (nomeadamente). O Domingo, do latim Dominica e no equivalente grego kyriaké, encerra em si o resultado da Ressurreição, pois por ela Jesus foi constituído Kyrios, Dominus, Senhor. Por esta razão desde as origens da Igreja o primeiro dia da semana foi distinguido dos outros, porque dia do memorial da Ressurreição, recebeu o nome de Dia do Senhor. As aparições de Jesus ressuscitado aos Apóstolos dão-se no Domingo quando Eles estão reunidos para recordar o dia da Ressurreição. Assim, o Domingo deve ser o dia por excelência da assembleia litúrgica que reforça a unidade da Igreja com Cristo ressuscitado. No Domingo devem os fiéis reunir-se para participarem na Eucaristia, ouvirem a Palavra de Deus recordarem a Paixão e Ressurreição de Jesus. O Domingo é o dia de festa, da alegria e do repouso. É evidente que existem muitos condicionalismos que podem por em risco o Domingo. As solicitações de índole desportiva, cultural, política ou social muitas vezes assumem o lugar primordial e o Domingo passou a significar o dia livre para essas actividades e não para celebrar o Dia do Senhor. Por outro lado a ideia do preceito dominical de ouvir missa é pobre e muito pouco esclarecido. No entanto sabemos que a celebração do Domingo como dia do Senhor e da Eucaristia vem desde os Apóstolos e das primeiras comunidades ao qual eles não falhavam porque reconheciam que como cristãos não podiam viver sem ele. O repouso dominical não é essencial à celebração do Domingo. Em muitos países em que se trabalha ao Domingo os cristãos antes de ir trabalhar celebram o Domingo como dia do Senhor, recordam e tornam presente a Ressurreição de Jesus. Muito do sentido do Domingo perdeu-se; será o Domingo que tem que se adaptar aos cristãos ou ao contrário como aconteceu no início? Certamente que passará por uma redescoberta do sentido do Domingo e por uma redescoberta do que se celebra no Domingo. “Domingo após Domingo, ela (a Eucaristia) é uma grande escola de vida, um encontro contagioso de amor. É nela que experimentamos a verdade da Boa Nova que aquece o coração: ‘Deus não nos ama porque somos bons e belos, mas torna-nos bons e belos porque nos ama’ (S. Bernardo) ” [Bruno Forte]. É na celebração dominical que nos descobrimos como povo de Deus, como assembleia crente, como comunidade celebrante. EUCARISTIA (acção de graças) A Eucaristia é dom de Deus, esse dom é Jesus Cristo que se oferece novamente como pastor bom e belo. A Eucaristia é, assim, encontro com Jesus Cristo que nos torna ou transforma em bons e belos. Na Eucaristia não recordamos apenas a Ressurreição de Jesus mas tornamo-la presente porque a Eucaristia recorda, actualiza e torna presente o mistério de Deus no meio da humanidade. Assim participar na mesa da Palavra e na mesa do Pão, celebrando a Eucaristia percebemos que fazemos parte do Corpo de Cristo e encontramos a necessidade de a celebrar a cada Domingo. Não se trata de uma necessidade imposta mas de uma necessidade originária e interior. Na Última Ceia Jesus deixa-nos um mandato: ‘Fazei isto em memória de Mim’. Os discípulos de Emaús reconhecem Jesus ao partir do pão. Na Eucaristia unem-se todos os dons e carismas da comunidade cristã. Cristo a todos une e unifica e a Eucaristia é fonte de toda a vida da Igreja e de toda a vida dos cristãos. A Eucaristia é escola de acção de graças, escola de esperança, escola de amor, escola de Cristo porque é Ele que se dá, é Ele que preside e é Ele que envia em missão os cristãos. PALAVRA DE DEUS “Quando chegou a hora, pôs-se à mesa e os Apóstolos com Ele. Disse-lhes: «Tenho ardentemente desejado comer esta Páscoa convosco, antes de padecer, pois digo-vos que já não a voltarei a comer até ela ter pleno cumprimento no Reino de Deus.» Tomando uma taça, deu graças e disse: «Tomai e reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até chegar o Reino de Deus.» Tomou, então, o pão e, depois de dar graças, partiu-o e distribuiu-o por eles, dizendo: «Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós; fazei isto em minha memória.» Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós» ” [Lc 22, 14-20]. “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum” [Act 2, 42-44] QUESTÕES: Que sentido tem para ti o Domingo? Celebras com alegria a Eucaristia? Poderá um cristão viver sem se encontrar com Cristo na celebração da Eucaristia (lembra-te dos teus amigos)? Próximo encontro no dia 17 de Abril às 21h; [Texto realizado para encontro de Formação para a Celebração da Confirmação - Melgaço 2010]

segunda-feira, 22 de março de 2010

Dias mundiais

Nos últimos dias celebraram-se os dias mundiais do sono, da poesia, da água ... entre tantas outras temáticas celebradas durante o ano. Apetecia-me escrever sobre eles mas resisti à tentação até hoje. Saí de casa e encontrei pessoas a conversar sentadas ao sol; rodeadas de carvalhos giestas, uma fonte, umas belas 'alminhas' em granito queimado pelo tempo, parei a conversar. Falamos de muita coisa ao som do correr da água e dos chocalhos de animais ao longe. A conversa continuou e falamos até de coisas essenciais: a vida, a morte, a pobreza, a velhice, a juventude ... mas curiosamente foi sobre a morte que ouvi a expressão mais bonita: "eu nao tenho medo de morrer, até quero ir para junto dos meus". Vim embora por outro lado e estive a tirar fotografias a uma ponte que no declinar do sol se espelhava em beleza na água calma que corria. Assim sem dia mundial ou dias mundiais celebrei a poesia, a água e certamente que hoje vou dormir melhor porque mais calmo e relaxado. Os dias mundiais são positivos se provocarem algum efeito nas pessoas mas como nada interpela, nada convoca nem provoca são dias que passam sem sentido; fundamental é parar e pensar tudo para que possamos conduzir a nossa vida e não nos deixarmos conduzir sem sabermos para onde ir ou para onde não queremos ir. [Não coloco fotografias porque não consigo; não sei o que se passa!]

domingo, 14 de março de 2010

XII - O pecado, a conversão e a Reconciliação

“O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a recta consciência. É uma falha contra o verdadeiro amor para com Deus e para com o próximo, por causa dum apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. Foi definido como ‘uma palavra, um acto ou um desejo contrários à Lei eterna’” (CIC nº 1849). PECADO Como vimos na definição do Catecismo da Igreja Católica o pecado é tudo aquilo que nos separa de Deus e dos irmãos de forma livre e consciente. O cristão é chamado à comunhão e à identificação com Cristo. Mas a comunhão e a identificação com Cristo é um acto livre do ser humano para com Deus; o pecado é, precisamente, o romper da comunhão com Cristo. Deus dá-se continuamente a cada um de nós através de Jesus Cristo. Não acolher este ‘dom’ é não criar comunhão com Deus e por isso pecar. Todos nós de uma maneira ou de outra somos pecadores e sofremos as consequências do pecado na nossa vida. A comunhão com Deus tem que ser entendida na dimensão de filiação, todos nós somos filhos de Deus e habitação de mesmo Deus. O pecado desfigura esta filiação e corrompe a comunhão com o criador. Só quem entende e acolhe que é filho de Deus e morada de Deus é que sente que é pecador e infiel. Só na relação com Deus é que nos sentimos pecadores. Na Sagrada Escritura temos muitas histórias de pecadores mas, ao mesmo tempo, muitas histórias da misericórdia divina. Ao pecado do ser humano corresponde a misericórdia de Deus. É preciso sentir o pecado à luz da Aliança que Deus estabeleceu com o povo de Israel do qual nós somos herdeiros. O pecado pode adquirir realidades ou consequências exteriores mas é sempre ou parte sempre de uma realidade interior, do coração. Hoje em dia existe menos sentido do pecado porque existe menos relação com Deus (perdeu-se o sentido de Deus), ou melhor, porque se perdeu a noção de culpabilidade (a culpa é dos outros, da sociedade, da natureza, do ambiente, das estruturas, etc.) ou do sentimento de pecado. O pecado começa com o fechamento do ser humano sobre si próprio. O pecado não tem todo o mesmo índice de culpabilidade ou de gravidade. O pecado mortal é praticado livre, voluntaria e conscientemente. O pecado venial é da dimensão do hábito, das nossas fraquezas e limitações. O pecado da omissão, muito presente nas nossas vidas, é sempre que nós por preguiça ou por comodismo não fazemos o que devemos. Isto para enumerar algumas categorias de pecado. Importa perceber que o pecado não é só matar ou roubar mas que é tudo aquilo que mata ou rouba à nossa relação com Deus e com os irmãos. CONVERSÃO A conversão é uma mudança clara na aceitação e no acolhimento de Jesus Cristo e do Seu Evangelho. A conversão está intimamente unida à dimensão de penitência no contexto bíblico. Por exemplo: Jesus iniciou a sua vida pública depois de ter estado em penitência no deserto. A penitência não é algo exterior e penoso mas adesão clara e inequívoca, de todo o coração a Jesus Cristo. A penitência é entendida como tempo de preparação. A penitência ou a conversão é uma atitude de confiança e de entrega a Deus com simplicidade e humildade. É o acolhimento do Seu chamamento a segui-Lo. A adesão a Jesus Cristo manifesta-se através de atitudes e gestos. Na Quaresma os cristãos são interpelados a converter o coração ou a fazer penitência e em consequência fazerem oração, praticarem o jejum e a partilha (esmola). RECONCILIAÇÃO A penitência além de ser uma virtude ou uma acção de acolhimento da Palavra de Deus é um Sacramento – que designamos de Reconciliação e vulgarmente é conhecido por Confissão. A Reconciliação é o reconhecimento diante de Deus e de um sacerdote que está em nome de Deus para nos ouvir e invocar o perdão de Deus. No Sacramento da Reconciliação nós celebramos e acolhemos com alegria a misericórdia de Deus. O Sacramento da Reconciliação ou do perdão não é uma consulta de psicologia mas um encontro onde as pessoas podem ser aconselhadas na sua vida espiritual. Não se trata apenas de enumerar os pecados mas de fazer uma caminhada de crescimento espiritual. A confissão dos pecados é apenas uma das partes do Sacramento da Reconciliação. Confessar implica reconhecer para si próprio e diante de um padre que também é pecador mas que está ali em nome de Deus e é nome de Deus aconselha, que acompanha e que invoca a misericórdia ao mesmo Deus. PALAVRA DE DEUS “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer-lhes: «A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.» Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos.»” [Jo 20, 19-23] QUESTÕES: Que se diz sobre o pecado? Que se diz sobre o Sacramento da Reconciliação? Existe pecado? Em 15 linhas responde e diz o tu pensas sobre tudo isto. Próximo encontro no dia 27 de Março às 21h; [Texto realizado para encontro de formação para a celebração do sacramento da Confirmação - Melgaço 2010]

quarta-feira, 3 de março de 2010

R: Baptismo/Catequese/Comunidade

Em primeiro lugar, apenas referir que nem sempre o tempo permite escrever no blog; em segundo lugar que podia assinar os comentários; em terceiro que vou tentar responder e esclarecer de forma breve (não coloco as perguntas porque são longas). BAPTISMO O Baptismo é celebrado com crianças ou com adultos, nestes pressupõe-se e exige-se uma solida formação cristã enquanto que às crinças se pressupõe que quando a idade o permitir vão ser iniciados na fé. O Baptismo é a porta de entrada na Igreja - Povo de Deus/Comunidade dos crentes. Os pais baptizam os filhos porque acreditam e acham que isso é o melhor para eles. Trata-se de uma escolha dos pais! Sabemos da psicologia que uma pessoa adulta é muito do que recebeu e apreendeu enquanto era criança. Logo trata-se de uma opção que os pais fazem na formação de uma criança. Escolher os valores e a educação é função dos pais, melhor é um direito dos pais (e não do Estado como se passa no nosso país). A ideia de escolha quando se é adulto é absurda! Se enquanto adulto sou muito do que fui enquanto criança como poderá uma mãe ou um pai deixar o seu filho ao abandono para que quando crescer ele possa optar? Poderá e fará algum sentido um jovem ou uma jovem de 20 anos não saber ler porque os pais decidiram que quando fosse 'grande' teria que decidir se queria ou não aprender a ler? CATEQUESE A catequese é, precisamente, o passo que se segue ao Baptismo de uma criança. Quando a criança tem 5 ou 6 anos entra para a catequese e aí juntamente com o ambiente familiar é iniciada na fé. Apreende com a capacidade que tem os mistérios de Deus. Acontece que durante muitos séculos pouco se trabalhou na catequese e na difusão da Palavra de Deus aos fiéis, também grande parte deles nem ler sabia. O que criou uma crença apenas de teor sociológico mas não de hábitos e de costumes. E esse é o grande problema! Depois quando se iniciou a catequese foi, e ainda é, na maior parte dos casos, apenas para crianças sem continuidade na idade adulta. Então temos outro problema, a pessoa cresceu a todos os níveis com excepção do religioso porque apenas mantém e distorcidas as noções de catequese que aprendeu com 8 anos. Daqui decorre a ausência de sentido da prática religiosa. Por isso se pede e se procura que a catequese acompanhe o crescimento da pessoa humana. Hoje em dia faz-se excelente catequese em muitas comunidades; o problema é combater a apatia, o comodismo e a tradição que minam a melhor catequese e que está presente, entranhada na mente e no coração de uma grande parte dos crentes. COMUNIDADE A comunidade é o que nós somos! Se nós somos corruptos a sociedade é corrupta e por aí adiante. Quem nunca tentou 'meter' uma 'cunha' para se 'safar' mais depressa ou para que lhe tirasem uma multa? Isto é corrupção em pequena escala. Depois não estranhemos a corrupção em alta escala! Alguns nunca foram grandes corruptos porque nunca tiveram essa oportunidade! Quando alguém corrompe ouvimos: 'teve sorte' ou 'olha que esperto' e ninguém pensa: 'olha que pessoa sem principios' ou 'pelo que tu fizeste vamos pagar todos' como será, por exemplo, quando alguém não factura e não paga impostos. CONCLUSÂO Será por causa de uma pessoa ser baptizada, ter ido à catequese que a sociedade é corrupta ou imoral? Certamente que não! Uma sociedade corrupta é sinal da ausênsia de valores sólidos que a criança devia ter assimilado para viver enquanto adulto. Se o cristão baptizado andou na catequese e enquanto jovem e adulto procurou aprofundar a relação com Deus familiarizando-se com a Sua Palavra vive em consonãncia com Ela. O que a Igreja e a sociedade precizam é de cristãos adultos na fé! Quando assim acontece não há despiques nem vestidos mas vivência da Palavra de Deus. E quem vive desta forma não encontra exageros na exigência da Igreja. Pelo que ficou dito antes nota-se que temos que nos formarmos mais e melhor! A confissão fica para outro dia!