quarta-feira, 22 de junho de 2011

Método do discernimento teológico-pastoral da peregrinação

Sabemos que o tempo presente não é de cristandade (se é que alguma vez foi) mas o tempo da procura, da busca (pessoal e comunitária) e do sair ao encontro e, por isso, a Igreja (Povo de Deus/Comunhão) tem que usar novos modelos e novos métodos na sua acção.

O presente texto pretende ser uma resposta ao repto lançado pelo Professor de Metodologias de Investigação em Pastoral no sentido de fazer uma proposta metodológica renovada que englobe as técnicas da recolha de dados da pesquisa qualitativa na esteira do Método do Discernimento proposto por Sérgio Lanza.

É neste contexto que proponho o Método de discernimento teológico-pastoral da peregrinação. Não iremos aprofundar exaustivamente a questão mas, apenas, traçar algumas perspectivas e possibilidade de desenvolvimento deste método.

1) Peregrino é aquele que sai do seu contexto, da sua vida e parte em busca do diferente, do outro, do inaudito. Esta dinâmica de saída e afastamento, de procura e de encontro está continuamente presente na história da humanidade. O ser humano parte em busca do outro, do Totalmente Outro – Deus – e de um Deus que em Jesus Cristo sai de si mesmo e encarna, torna-se humano, fazendo a maior peregrinação de todas. O ser humano é, em si mesmo, peregrino e a Igreja, composta por humanos, tem que encarnar o paradigma da atitude peregrina como modo do seu ser.

2) Podemos sintetizar a metodologia proposta por Sérgio Lanza (já anteriormente apresentada, remetemos mais desenvolvimentos para http://padrecesarmaciel.blogspot.com/2011/01/metodologias-na-teologia-pratica.html) em três passos: análise e avaliação; decisão e projecção; acção e verificação. Passos, estes, a desenvolver numa perspectiva crente, isto é, sob acção do Espírito Santo e na esteira da Teologia da Comunhão preconizada pelo Concílio Vaticano II.

3) A nossa proposta passa por introduzir o paradigma da peregrinação no método do discernimento de Lanza. O peregrino antes de se pôr a caminho analisa e avalia as possibilidades de levar a cabo a peregrinação. Avalia a sua situação concreta (os prós e os contras) e só depois decide e projecta a sua própria peregrinação (etapas, alojamento) e se põe a caminho. No caminho segue os planos e adapta-se ao possível, às circunstâncias para que sua caminhada seja possível e lhe traga realização e não frustração. Quando termina avalia e verifica em que medida cumpriu os objectivos e os planos (mais interiores que exteriores) para aquela peregrinação. Uma pastoral sob esta perspectiva está aberta ao outro, às franjas da sociedade, ao diferente, interroga e interroga-se numa adaptação permanente, apenas focada no essencial.

Para concluir podemos dizer, que na nossa perspectiva, uma pastoral afinada por este diapasão permite que a comunidade e cada crente que a compõe faça a sua própria caminhada, coloque as suas dúvidas e as suas dificuldades permitindo a construção de biografias crentes mais do que um ‘modelo’ uniforme e oficial para todos.



Quanto a esta Unidade Curricular podemos dizer que nos permitiu conhecer e abrir horizontes metodológicos para a acção pastoral, ainda muito centrada na manutenção e pouco habituada ao projecto, à programação e consequente realização e avaliação.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Capela das Cainheiras

Actual;

Antigo;

A capela de Nossa Senhora da Bosvista no lugar das Cainheiras (Castro Laboreiro) tem um novo altar/retáblo que foi benzido na Eucaristia de Segunda-feira de Páscoa.
Foi com alegria que demos mais este passo na recuperação e preservação do património de cariz religioso da Paróquia de Castro Laboreiro .. se Deus quiser (e os homens) é para continuar!

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval em Castro





As fantasias de Carnavais de outros tempos bateram-me à porta!
Fantasias tradicionais em castro Laboreiro!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cheque ensino

Nunca, como nos últimos tempos, se ouviu falar tanto de Educação em Portugal na luta entre o ensino estatal e o ensino privado.
Nunca, como nos últimos tempos, se fez uma guerra ridícula aos estabelecimentos de ensino privados em Portugal.
A senhora Ministra da Educação, que em alguns casos tem razão, perdeu o norte e ‘mete tudo no mesmo saco’ em prol da escola estatal.
Está tudo errado! Estará tudo errado?
Importa deixar as manifestações e as guerras entre ensino privado e estatal ou entre colégios com acordo de ensino público. A questão é muito mais profunda. De facto o ensino universalizou-se mas, ao mesmo tempo, cresceu o insucesso e a incompatibilidade de muitos jovens ao sistema ‘único’ de ensino. Porquê impor o mesmo sistema de ensino a pessoas diferentes e com interesses diferentes? Os pais não poderão interferir na educação dos seus filhos?
A função do Estado não é impor a escola pública mas possibilitar que todos os cidadãos (de direita, de esquerda, anarquistas, católicos, judeus, muçulmanos, budistas) tenham acesso ao ensino. Com base nesta premissa considero que em qualquer nível do ensino (do pré ao pós universitário) não existe liberdade de escolha e muita coisa está errada. O estado deve decidir quanto pode ou quanto quer gastar no ensino de cada cidadão e estes devem poder escolher em que escola e em que modelo querem aprender. Por isso, na minha opinião, o estado deveria estabelecer um valor de ‘cheque ensino’ igual para todos e cada um (cada família) escolhia o considera melhor. Assim as melhores escolas públicas ou privadas estavam ao serviço de todos e potenciavam-se umas às outras na luta por um ensino melhor. E não se diria que o estatal é bom e barato e o privado mau e caro ou pelo menos caro como querem deixar transparecer os senhores do ministério dos quais a Senhora Ministra é fraca porta-voz. Faça-se uma reflexão profunda sobre o ensino! Olhe-se para o ensino noutros países, por exemplo, os nórdicos. E tenha-se a coragem de dizer e decidir que caminho a ou caminhos a seguir em vez de medidas avulsas e discriminatórias.
(Surge esta reflexão a propósito do dia da Universidade Católica que estes dias se celebra e à luz dos últimos acontecimentos no ensino publico ou de serviço público em Portugal)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Ser Pai/Mãe: Um processo sempre em construção

Na próxima Sexta-feira (21 de Janeiro) às 21 horas na Casa da Cultura de Melgaço a Doutora Maria Cristina Cristo Parente (Professora da Universidade do Minho) vai falar-nos sobre o ser pai/mãe hoje; Vai falar-nos sobre as implicações da paternidade e da maternidade hoje apresentando-nos pistas de reflexão e possibilidades de crescimento enquanto família. Naturalmente que será uma leitura crente mas não só! A Professora Cristina é Doutorada em Psicologia e certamente que a todos ajudará a reflectir com base na psicologia e na sua experiência de mãe! Porque não participar? Porque não crescer?  

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Metodologias na Teologia Prática

Análise do VII Capítulo do livro:
Teologia Prática Fundamental – Fazei Vós, Também,
José da Silva Lima, ed. UCP, Lisboa 2009, pp. 275-308

Parte I: Resumo do Capítulo

“A área teológica que nos ocupa não se concretiza senão pela adequação de técnicas de investigação articuladas às finalidades que persegue” (p. 275) para isso a teologia recorre ao sistema de parceria, de diálogo com os diferentes intervenientes sociais apresentando uma referência de transcendência. No diálogo com as ciências sociais a teologia prática dá e recebe, troca e crítica, adquirindo o estatuto de mediadora.

1)      Da Dedução à Indução. Um novo ponto de partida

O percurso metodológico centrado no pastor, na ‘cura de almas’, na aplicabilidade da teologia era prioritariamente dedutivo. A teologia prática era vista como secundária ou como conclusiva, já que era dos outros saberes (teologia, bíblia, história) que se deduzia que consequências retirar para a prática eclesial. “Foi assim, até à época do Concílio Vaticano II, uma espécie de apêndice aplicativo da Teologia, produzindo um discurso de teor normativo” (p. 278). Tratava-se de ‘um saber-fazer’ a partir dos outros ‘saberes’. “O tratado era de segunda ordem (do ponto de vista teológico), era aplicativo, normativo e derivado” (p. 278). Este método deu os seus resultados em ambiente de Cristandade ou em regime de ‘civilização paroquial’ como foi Portugal até ao 25 de Abril de 1974.

1.1)            Transição

A partir do Concílio Vaticano II o procedimento dedutivo foi posto em causa e colocou-se como ponto de partida as práticas eclesiais onde emergem. “O procedimento tornou-se indutivo, «da prática aos saberes» ” (p. 280). “Se, antes, o ponto de partida era constituído pelos dados dogmáticos e pelos princípios ali subjacentes, agora, o ponto de partida alicerçou-se nos dados empíricos das Ciências Sociais e nas correlações possíveis entre eles, fornecidos estes pela Psicologia, pela Sociologia, pela Pedagogia. M. Midali chama-lhe por isso o método dedutivo ao inverso” (p. 281). Esta metodologia trouxe para a Teologia Prática a consciência da necessidade da incarnação dos saberes na realidade sócio-eclesial onde as comunidades vivem. No entanto, é preciso ter presente que estas leituras de perspectiva sociológica ou psicológica não são a realidade em si mesma e por outro lado nada têm de teológico o que pode suscitar diagnósticos ou orientações desajustadas.

2)      O método da correlação

No mundo francófono Marc Donzé propõe um método que apresenta em cinco etapas. “Não preconiza outro ponto de partida diferente do método indutivo, mas propõe a correlação entre duas etapas de teor analítico e outras duas de teor preponderantemente teológico, sem que as primeiras deixem esta perspectiva de lado” (p. 283). Assim, a primeira etapa é a percepção das práticas; a segunda, é análise crítica das mesmas; a terceira, é a correlação, como fase central de todo o processo, onde se confrontam os dados da análise com a Revelação, a tradição e a história; daqui, passa-se à etapa do projecto e, por último, à etapa da verificação, que permite aferir a pertinência do projecto. L Gagnebin criticará esta proposta, no fundo, ele critica quer os métodos dedutivos quer os indutivos por serem demasiado lineares, ou partem da Teologia e chegam a ela. É proposta uma nova via em que todo o processo se torne teológico porque permanentemente inspirado por Deus.

2.1) Ver, julgar, agir

Este método usado em muitos Documentos da Igreja, quer universal quer nacional, é uma proposta saída da ‘Revisão de Vida’ da Acção Católica. Neste método “o facto de vida é o ponto de partida, o Evangelho é a referência iluminadora e o objecto é a conversão efectiva e a mudança” (p. 286). “O triplo momento pode explicitar-se como ‘observação pastoral’ (ver), ‘interpretação pastoral’ (julgar) e ‘acção pastoral’ (agir) ” (p. 287).

2.2) Caminho empírico-crítico

M. Midali apresenta outras modalidades de conjugação ou de correlação entre Indução e Dedução mais próximas de metodologias empírico-criticas. Aqui a prática está presente desde o início até ao fim. Midali apresenta este ‘caminho metodológico’ em seis etapas: 1) descrição da experiencia vivida; 2) atenção crítica à prospectiva e aos interesses; 3) define a prática de correlação de prospectivas entre cultura e tradição cristã; 4) interpretação do sentido e do valor; 5) hermenêutica da própria comunidade; 6) desenvolvimento de orientações e planos para a comunidade particular.

3)      Métodos de teor projectivo e de discernimento

M. Midali apresenta também o ‘itinerário metodológico, teológico, empírico, crítico e projectual’ que articula elementos dos métodos precedentes e que Floristán considera uma adaptação ao campo pastoral do método de ‘revisão de vida’. Midali distingue “três fases de acção: a kairológica, enquanto análise avaliativa das situações concretas; a projectiva (projectual), enquanto projecção da praxis desejada; a estratégia, enquanto programação da passagem a efectuar entre situações dadas e as desejadas” (p. 292). Trata-se de uma proposta de projectualidade teológica-prática em que nenhuma fase é hermética mas correlativa. Esta metodologia tem como novidade o teor teológico do princípio até ao fim, o facto de aplicar o conceito de projecto (dimensão que se aplica nas três fases) e, por último, é uma proposta pneumatológica dado que a leitura de discernimento, a estratégia de acção e a prática desejada não se atinge sem a energia do Espírito.  

3.1) Discernimento teológico-pastoral

Sergio Lanza segue na linha do proposto por Midali mas chama-lhe de método “do discernimento teológico-pastoral” e apresenta as suas especificações. “S. Lanza está convencido de que a «projectualidade (mentalidade e práticas) e o discernimento (espiritualidade e método) constituem as estradas mestras sobre as quais se dinamiza o renovamento da comunidade cristã» ” (p. 296).  Lanza faz uma abordagem às limitações dos métodos precedentes criticando os métodos que preconizam uma ‘utopia tradicionalista’ ou uma ‘utopia futurista’ – “as duas utopias sofrem por avançar numa perspectiva unidireccional e objectivante” (p. 297). Depois da crítica Lanza apresenta o método do discernimento teológico-pastoral que se desenrola em três momentos: análise e avaliação; decisão e projecção; actuação e verificação. O que diferencia Lanza das outras reflexões metodológicas é o seu desenvolvimento reflexivo, ou a sua proposição de discernimento, a sua teologia do discernimento – é um método teológico que leva a um agir responsável, proporciona decisões vitais e opções fundamentais nos diversos níveis da existência cristã. Esta metodologia tem como quadro de referência a eclesiologia de comunhão - o discernimento é feito na comunidade num dinamismo interno que leva à conversão. Para se poder discernir é fundamental acolher o Espírito, preparar-se com humildade e paciência e adquirir competências. “O discernimento é aberto e dinâmico, quando é eclesial, não criando absolutos de experiencia crente, respeitando a liberdade como lugar criacional” (p. 300). Esta metodologia propõe a participação de todos os membros da comunidade numa atitude corresponsável e sinodal tornando-se escola de comunhão, de diálogo, de escuta e de perdão.

4)      Diálogo com as Ciências Sociais e humanas

A Teologia Prática situa-se no cruzamento e numa atitude dialogica entre a teologia sistemática e as ciências sociais e humanas. Este cruzamento e consequente diálogo deu-se a partir da segunda metade do século XX. As Ciências mais procuradas foram a Pedagogia, a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia e a História. A relação com a Pedagogia e a Psicologia foi imposta pela necessidade de novas práticas ligadas à Catequese e à aprendizagem enquanto a relação com as outras ciências vai surgindo à medida que a proposta cristã se confronta com a secularização e necessita de dados de teor analítico para prosseguir os seus objectivos.

4.1) Uma equipa

“ A Teologia Prática, no diálogo com os saberes sociais e humanos, esforça-se por desvendar o sentido de Deus nas situações concretas. Que se entenda que os momentos metodológicos são três, quatro ou cinco, não tem grande relevância desde que, como acontece em muitos outros, não se esqueça nenhum dos dados a ter em conta: a comunidade e as suas práticas, a leitura crítica interdisciplinar, a projecção de situações novas com sentido (p. 305). Nesta perspectiva Ramiro no seu Tratado de Teologia Pastoral chama atenção para a formação da equipa de trabalho que no seio da comunidade analisa, projecta e avalia as suas acções.

4.2) Algumas técnicas de recolha

“Importa não confundir uma metodologia com os processos e técnicas de recolha de Deus. […] Sobretudo no Canadá e em zona francófona (França, Bélgica), os processos mais comummente utilizados referem-se sobretudo a metodologias de índole qualitativa, já que as de índole quantitativa implicam um redobrado trabalho de apuramento matemático de dados” (p. 306). A pesquisa qualitativa produz e analisa dados descritivos ou comportamentos observados e possibilita a hipótese de um projecto de transformação. As técnicas mais usadas são a biografia (história de vida), a técnica etnográfica (observação participante) e o ‘estudo de caso’.  

Parte II: Análise crítica

De forma clara, resumida e concisa o Doutor José da silva Lima trata neste capítulo as metodologias usadas em Teologia Pastoral, apresentando autores, métodos e as suas consequências na acção pastoral da Igreja (virtualidades e defeitos). Parece-me fundamental determo-nos no método de discernimento pastoral proposta por Lanza nomeadamente na vertente avaliativa dos programas pastorais. Muitas vezes, planemos mas nunca verificamos a sua aplicabilidade. Avaliar significa por em causa, significa estar num processo cíclico de abertura à acção do Espírito e de adaptação permanente da própria acção pastoral. Naturalmente que se pressupõe uma concepção de Igreja Comunhão em que a comunidade crente é corresponsável no planeamento, na concretização e na avaliação da acção pastoral. Por outro lado ainda me parece incipiente o uso das metodologias das ciências sociais na pastoral, parte-se de pressupostas e de necessidades que não existem e depois toda a acção pastoral esbarra em algum lugar.