quinta-feira, 15 de outubro de 2009

II - Quem sou?

Para podermos responder à pergunta – ‘O que é ser cristão?’ – temos que em primeiro lugar perceber quem somos. Quem sou eu? Que sentido tem a minha vida? Importa referir, antes de mais, que não é fácil apresentar a nossa identidade pois somos seres em construção, em crescimento. No entanto, os traços fundamentais e fundacionais que nos identificam permanecem. Partir em busca da descoberta de nós próprios é um grande mistério. Muitas perspectivas podem ser apresentadas mas em sentido cristão nós somos criaturas de Deus. Criados para a liberdade e para a felicidade. A dignidade da pessoa humana radica, funda-se, no facto de ser criatura de Deus – porque todos (os humanos) somos criaturas todos temos a mesma dignidade aos olhos de Deus e aos olhos dos outros. Criados para e na liberdade; Deus não nos aprisiona mas dá-nos a possibilidade de O escolhermos ou de O negarmos; de fazermos o bem ou o mal. Na liberdade desafiados à responsabilidade para com Deus e para com a humanidade. A nossa identidade constrói-se na relação com Deus e com as outras pessoas. A noção de identidade aperfeiçoa-se e desenvolve-se na relação e na alteridade. Não existem duas pessoas iguais. Num grupo restrito ou na sociedade crescemos uns com os outros na afinidade ou na disparidade das opiniões. Na relação e no conhecimento do outro nasce o amor – ‘ninguém ama o que não conhece’. Criados por Deus para a felicidade somos homens e mulheres (masculino e feminino). Na diferenciação dos sexos construímos a nossa identidade. O nosso corpo (templo do Espírito Santo como nos diz São Paulo – 1Cor 6,19) merece-nos todo o respeito e atenção. Quanto tempo gastamos por dia a tratar do nosso corpo? (refeições, higiene, lazer, etc) O nosso corpo limita e possibilita as relações – sem corpo não fazemos nada. Por isso, como homem ou mulher tenho que conhecer, valorizar e respeitar o meu corpo, a minha sexualidade, a minha afectividade integrando tudo no projecto de Deus a meu respeito. Em síntese: visões do corpo na sociedade de hoje 1) Visão racista: despreza o outro só porque não tem a mesma cor, não é da mesma raça ou do mesmo sexo; 2) Visão comercial: dá valor somente às aparências, à beleza exterior, usando o corpo como propaganda de produtos (para vender e lucrar mais); 3) Visão produtiva: só valoriza o corpo pela sua capacidade de produção; o corpo vale enquanto produz, enquanto é fonte de aumento do capital; 4) Visão negativa: o corpo é feio e disforme logo há que o esconder; o corpo causa medo e vergonha; 5) Visão egocêntrica: o corpo é meu logo posso fazer dele o que quiser (sexo, álcool, droga); não tenho respeito por mim nem pelos outros; 6) Visão cristã: o corpo do homem e da mulher foi criado à imagem e semelhança de Deus. Não é resultado do acaso mas da vontade amorosa de Deus. O corpo dá-nos possibilidade de revelarmos a nossa identidade e a nossa dignidade. Palavra de Deus: “ «Tudo me é permitido», mas nem tudo é conveniente. «Tudo me é permitido», mas eu não me farei escravo de nada. Os alimentos são para o ventre, e o ventre para os alimentos, e Deus destruirá tanto aquele como estes. Mas o corpo não é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo. E Deus, que ressuscitou o Senhor, há-de ressuscitar-nos também a nós, pelo seu poder. Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Iria eu, então, tomar os membros de Cristo para fazer deles membros de uma prostituta? Por certo que não! Ou não sabeis que aquele que se junta a uma prostituta, torna-se com ela um só corpo? Pois, como diz a Escritura: Serão os dois uma só carne. Mas quem se une ao Senhor, forma com Ele um só espírito. Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que o homem cometa é exterior ao seu corpo, mas quem se entrega à impureza, peca contra o próprio corpo. Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis? Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.” [1Cor 6,12-20] Pistas de interpretação:
Paulo contesta a doutrina dos gnósticos libertinos que defendiam que tudo quanto é corporal não interfere na vida espiritual fundamentando-se na doutrina da criação. O corpo interessa a Deus que o criou. O cristianismo está atento à materialidade e à dimensão temporal do humano. O sexo enquadra-se nesta perspectiva e destina-se à realização total da pessoa humana. Paulo escreve este texto para se opor ao culto idolátrico praticado em Corinto no templo de Afrodite em que os fiéis se uniam sexualmente à prostituta sagrada para comunicar com a divindade que ela representava. Ora os cristãos são templos do Espírito Santo e estão unidos a Cristo logo a sexo sagrado não tem sentido, pode ver-se como apostasia (negação de Deus). ‘Pecar contra o próprio corpo’ não se refere ao pecado materialmente sexual mas ao pecado de idolatria. A prostituição sagrada destruía a própria essência do ser cristão. O sexo faz parte do Projecto criador mas não pode ser visto como um brinquedo, um capricho ou uma manifestação de egoísmo mas uma abertura ao outro e um serviço à humanidade. O cristão tem que compreender o que leva à realização e ao crescimento da pessoa humana; criado por Deus para a liberdade não se deve deixar escravizar por nada nem ninguém, nem mesmo pelo próprio corpo.
Questões: O que entendes por liberdade e felicidade? Sinto que me conheço? Qual é a minha visão do corpo? Porque existem visões diferentes? Próximo encontro no dia 31 de Outubro às 21h
Texto para o II Encontro de preparação para a Celebração do Sacramento da Confirmação em Melgaço

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