segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Terminar ou começar?

Está quase a terminar um ano ou está quase a começar outro? Pela resposta que cada um der pode-se ver como correu o presente ano! Para uns importa que termine este; para outros importa que comece outro.
Para mim o importante não está de um lado ou do outro da barricada. O importante está na avaliação do passado e na projecção do futuro. Mas pouco se avalia e pouco se projecta; parece que tudo é um navegar com terra à vista ou em águas pouco profundas!
Quando se avalia é o que se fez e nunca o que não se fez ou o que se poderia ter feito. Isto é o resultado da ausência de projecto e de objectivos; é o resultado da ausência de comprisso e de nos inscrevermos naquilo que fazemos.
Que estes últimos dias do ano nos ajudem a pensar, a avaliar e a projectar!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Copenhaga e o clima

Nos últimos dias tudo gira à volta do clima e à falta de clima favorável na Cimeira de Copenhaga. As politicas e os políticos raramente se entendem quando implica conjugar esforços para bem de todos e não apenas de alguns.
A crise ecológica ou as alterações climáticas são o fruto mais evidente da sociedade de consumo que tudo relativiza. Sem fundamentos e sem identidade esta sociedade caminha para o abismo - as alterações climáticas (entre outras). E quem se importa com isso? Muito poucos! 'Se o meu umbigo não tem problemas posso dormir descansado'!
O Papa Bento XVI, na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz, incentiva a preservar a criação para construir a paz. Preservar a criação é "hoje essencial para a convivência pacífica da humanidade" (nº 1).
O Papa fala da necessidade de criar um modelo de desenvolvimento para a humanidade fundado precisamente "na centralidade do ser humano, na promoção e partilha do bem comum" (nº 9). Compreender e acolher o ser humano como criatura de Deus e o mundo como obra criadora de Deus é o caminho para a salvaguarda e o respeito por ambos, criando "uma visão igualitarista da 'dignidade' de todos os seres vivos" (nº 13). A ausência desta perspectiva leva ao 'safe-se quem poder' e ao relativismo.
"A questão ecológica não deve ser enfrentada apenas por causa das pavorosas perspectivas que a degradação ambiental esboça no horizonte; o motivo principal há-de ser a busca duma autêntica solidariedade de dimensão mundial, inspirada pelos valores da caridade, da justiça e do bem comum" (nº 10).
A ausência de Deus leva à ausência de sentido; deixemos que Deus entre nas nossas vidas!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

VI - Bíblia - Palavra de Deus

Bíblia A palavra ‘Bíblia’ vem do grego o significa ‘livros’. A origem vem da palavra Byblos (cidade fenícia que comercializava o papiro no qual se escrevia além do pergaminho e da cerâmica). Como o nome indica a Bíblia é composta por 73 livros; 46 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento. Podemos dizer que a Bíblia é uma pequena biblioteca onde está narrada a história do povo de Israel, a história da pessoa de Jesus, as suas pregações e a história das comunidades cristãs primitivas. Quando usamos a palavra ‘história’ não significa que se trata de um tratado de historiografia de sabor científico como entendemos na cultura actual. A Bíblia apresenta a ‘história’ de personagens crentes (o que se passa com os homens e com as mulheres numa perspectiva de cultura religiosa). A Bíblia não apresenta uma história neutra – a visão é sempre crente. “Na Bíblia encontramos todos os géneros literários: mito, saga, poesia, romance, carta, ensaio, evangelho (género único em toda a literatura), apocalipse, história” (Joaquim Carreira das Neves). A bíblia apresenta uma interpretação teológica da história. O leitor da Bíblia tem que ter necessariamente isto em conta e não pode partir para uma leitura literal e unilateral. Os livros da Bíblia não foram escritos por uma pessoa nem de uma só vez, assim como não foram escritos pela ordem que aparece na Bíblia. A cultura hebraica é profundamente oral. A oralidade ocupa o centro da palavra. Muito raramente e só numa época muito tardia se começa a escrever. Assim, as ideias são transmitidas de geração em geração oralmente (cada época acrescenta a sua perspectiva e a sua releitura). A cultura hebraica é oral mas começaram a escrever aquilo que consideravam mais significativo para o povo. Escrevia-se o mais importante e de forma sintetizada. A ordem dos livros não é histórica mas lógica. Antigo Testamento Os 46 livros do AT narram os acontecimentos desde a criação do mundo até aos finais do século I a.C. No AT, através dos patriarcas, reis, profetas, sacerdotes, luta-se por uma nova maneira de ler a história à luz de uma nova fé num Deus único em oposição ao politeísmo circundante (Assíria, Babilónia, Egipto, Pérsia, Grécia, Roma). Esta nova visão da história traz consequências na concepção do ser humano e do mundo. O AT está dividido em 4 secções: Pentateuco, Históricos, Sapienciais e Proféticos (ver introduções da Bíblia Sagrada – Difusora Bíblica). Alguns exemplos de origem dos textos e posterior redacção escrita: Pentateuco atribuído a Moisés só foi redigido pelo século V a.C.; os livros históricos que narram acontecimentos desde o século XIII a.C. só foram redigidos entre o século V e I a.C. Novo Testamento Os 27 livros do NT narram a história de Jesus, os acontecimentos por ele operados, os seus ensinamentos e o inicio das primeiras comunidades cristãs (escritos entre o século I e o II d.C.). O NT centra-se na pessoa de Jesus de Nazaré e, sobretudo, no mistério pascal da Sua Morte e Ressurreição acreditado por Judeus e não judeus como o Messias esperado (Filho de Deus). Foi esta nova visão ou concepção do mundo e do ser humano trazida por Jesus que determinou a cultura do Ocidente e onde esta chegou levada pelos europeus. O NT está dividido em 5 secções: Evangelhos e Actos; Cartas de Paulo; Carta aos Hebreus; Cartas Católicas e Apocalipse. Como no AT também no Novo a ordem não é cronológica mas lógica. As cartas de Paulo aos habitantes de Tessalónica (actual Turquia) foram escritas entre o ano 49 e 51 d.C. e são dos primeiros escritos do NT enquanto o Evangelho de Marcos foi escrito pelo ano 70 d.C. Dei Verbum A Constituição Dogmática Dei Verbum é o documento do Concílio Vaticano II (1962/65) acerca da Palavra de Deus na vida da Igreja. Este documento apresenta a forma como se deve interpretar e o lugar primordial que ocupa a Palavra de Deus – Revelação de Deus (Deus que se vai mostrando progressivamente à humanidade). Deus inspirou (não ditou) o ser humano para escrever a Sua Palavra – Palavra que salva. Deus fala e está na Sua Palavra. O Deus criador No livro do Génesis ou das origens aborda a temática da origem humana à luz da fé. O Génesis apresenta dois mitos da criação do ser humano (capitulo 1 e 2). A ciência através de Darwin fala de evolucionismo e a Bíblia de criação em sete dias. Quem fala verdade? A verdade está do lado da ciência e do lado da Bíblia, tudo depende da forma como lemos o texto. Um texto bíblico não pode ser lido de forma literal e historicista mas no seu contexto e como mensagem de fé. O Livro do Génesis é o livro da Bíblia onde o povo de Israel coloca as questões fundamentais da existência e às quais dá uma resposta crente, muitas vezes com uma perspectiva antropomórfica (atribuição de características humanas a Deus) de Deus. Como vimos o Génesis apresenta dois mitos da criação, duas correntes de resposta ao problema da origem dentro do povo de Israel. “A criação consiste no acto performativo ou criativo da Palavra que transforma o caos em cosmos. Não se trata de criação em sentido científico ou evolucionista, mas de história de salvação” (Joaquim Carreira das Neves). A semana da criação termina com o descanso sabático. A perspectiva de Deus criador só surge muito mais tarde no contexto hebraico – Deus era libertador (do Egipto); um Deus que acompanhava o povo (aliança) logo também tem que ser criador porque o Deus de Israel domina a história. Questão: Tendo em conta o exposto a Bíblia opõe-se à ciência? Posso fazer uma leitura literal da Bíblia? Explica como posso acreditar no que a Bíblia diz e estudar ciência (mínimo 15 linhas). Próximo encontro no dia 9 de Janeiro às 21h;
[Texto realizado para encontro de Formação para a celebração do sacramento da Confirmação – Melgaço]

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Onde estão os milhões?

Quem passa várias vezes por semana na estrada de Lamas de Mouro para o São Bento do Cando ou para a Branda da Aveleira apetece-lhe perguntar: 'onde estão os milhões?'
A estrada ficou em estado lastimável pelo passar contínuo dos camiões para instalar o parque de energia eólica. Esses parques rendem ou renderam milhões mas a estrada está cheia de buracos (como mostram as fotografias) e ninguém faz nada. Num ano apenas se tem degradado sem que ninguém faça nada, a não ser tentar sair de um buraco para cair noutro.
Assim anda este nosso país que aposta nas novas tecnologias e nas energias alternativas. Apetece dizer: fora isso tudo bem! Ou tudo mal!

SMS ... Natal ... SMS

Vivemos no tempo da comunicação global: as redes sociais (hi5; facebook; orkut; etc.), as SMS, o twitter ou o blog, entre outros. No Natal trocamos comunicação com muitas pessoas, mais ou menos conhecidas. Por entre teclas desejamos um bom Natal ou um bom Ano Novo. Mas será que comunicamos de facto? Será que desejamos com sinceridade um Bom (Santo) Natal? Ou pelo contrário só dizemos ou só enviamos SMS para não estar quieto ou porque todos fazem o mesmo? Temo que no meio de tanta comunicação olhemos apenas para o nosso umbigo e esqueçamos tudo o resto. Tanto desejamos um ‘Bom Natal’ como dizemos ‘hoje está sol’. Nada nos alegra, nos convoca ou implica. No tédio em que vivemos dizemos coisas sem sentir e sem pensar. Enviamos uma SMS ou descarregamos duas palavras no twitter que logo são lidas e apagadas – numa fracção de segundos são e deixam de ser. Por isso nada nos implica. Tudo é virtual e, por isso, indiferente. Os postais e as cartas (nada de saudosismo!) podiam ler-se e reler-se – eram um pouco da pessoa que estava ali. Tudo parecia e era realmente mais real. Mas este é o nosso tempo! Temos que usar a SMS e o twitter mas também temos que chegar perto daqueles que nos são próximos. Não podemos enviar uma SMS para o outro lado do Atlântico e esquecer de viver e celebrar o Natal com aqueles que connosco vivem todos os dias. O espírito do Natal é o da alegria, da companhia, da paz, da generosidade, da caridade. Que cada um de nós (a começar por mim) seja capaz de viver e de proporcionar um Santo Natal!

domingo, 29 de novembro de 2009

Um Domingo com neve

Hoje nevou pela primeira vez este Inverno. Acordei com um manto branco a entrar-me pela janela. A sua luminosidade tudo envolvia.
Levantei-me e celebrei Eucaristia na igreja de Castro Laboreiro; telefonei para a Gavieira e para o Santuário da Peneda a comunicar que não ia celebrar.
Lareira acesa e cozinhei um excelente frango (ainda não sei como saiu tão bom (!) ou será da neve e do frio?).
Durante a tarde estive a trabalhar com a serenidade dos flocos de neve a cair e com o crepitar do lume na lareira. Há dias assim!

sábado, 28 de novembro de 2009

V - Um novo caminho para a sociedade

No último encontro dirigimos o nosso olhar sobre a sociedade em que vivemos tendo em conta três características (entre muitas possíveis): ‘aldeia global’; ‘a sociedade de consumo’; ‘política (bem público) e o futebol’. Hoje vamos perspectivar possibilidades de uma regenerada (novamente gerada) sociedade. Comunidade Global Passar da ‘aldeia global’ no que tem de indiferentismo e todas as outras possibilidades negativas (porque também tem positivas) para uma comunidade global. A comunhão como matriz identificadora da sociedade. Uma comunidade que é alimentada de pequenas comunidades que interagem entre si e constroem a grande comunidade global. A comunidade pressupõe a comunhão de princípios e objectivos que não são o somatório dos objectivos de cada um mas que são aqueles que a comunidade no seu todo identifica como tais. A comunidade global pressupõe a igualdade que leva à comunhão, nesta lógica ninguém domina porque apenas interessa o bem comum. A divisão tem que dar lugar à união no sentido da comunhão que acolhe a diferença e a diversidade. Sociedade da caridade (solidariedade) A comunhão conduz à caridade (conceito cristão – caritas/amor – Deus é amor - irmandade) ou a solidariedade (conceito laico – perspectiva da obrigação/humanismo) e não permite o consumo desenfreado de alguns e a morte à fome de muitos. Agir com caridade é reconhecer as minhas necessidades e as do próximo – partilha de necessidades e partilha de bens. Isto contribui para o equilíbrio da sociedade. Porquê? Porque diminui o fosso entre ricos e pobres e promove o crescimento contínuo da sociedade. Não quer dizer que acabam os ricos e os pobres (essa foi a tentação ou a utopia comunista que falhou a todos os níveis) mas que a riqueza está ao serviço de todos e não apenas de alguns. Um empresário que coloca os seus bens, o seu dinheiro ao serviço de todos promovendo o trabalho com salários justos está a desenvolver e o contribuir para o bem comum. Parafraseando um provérbio chinês – não dês peixe mas ensina a pescar – é talvez o que é mais necessário e mais difícil na nossa sociedade. Palavra de Deus “O sogro de Moisés disse-lhe: «Não está bem aquilo que estás a fazer. Com certeza desfalecerás, tu e este povo que está contigo, porque a tarefa é demasiado pesada para ti; não poderás realizá-la sozinho. Agora, escuta a minha voz; vou dar-te um conselho, e que Deus esteja contigo! Tu estarás em nome do povo em frente de Deus, e tu próprio levarás as causas a Deus. Adverti-los-ás dos preceitos e das instruções e dar-lhes-ás a conhecer o caminho que devem seguir e as obras que devem praticar. Escolhe tu mesmo entre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, homens íntegros, que odeiem o lucro ilícito, e estabelecê-los-ás como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez. Eles julgarão o povo em todo o tempo. Toda a questão que seja grande, eles a apresentarão a ti, mas toda a questão menor, julgá-la-ão eles mesmos. Torna assim mais leve a tua carga, e que eles a levem contigo. Se fizeres desta maneira, e se Deus to ordenar, tu poderás permanecer de pé, e também todo este povo entrará em paz nas suas casas.» Moisés escutou a voz do seu sogro e fez tudo o que ele disse. Moisés escolheu de todo o Israel homens capazes e colocou-os à cabeça do povo, como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez. Eles julgavam o povo em todo o tempo: as questões difíceis levavam-nas a Moisés, mas todas as questões menores julgavam-nas eles mesmos” [Ex 18,17-26]. “Ao regressarem, os Apóstolos contaram-lhe tudo o que tinham feito. Tomando-os consigo, Jesus retirou-se para um lugar afastado, na direcção de uma cidade chamada Betsaida. Mas as multidões, que tal souberam, seguiram-no. Jesus acolheu-as e pôs-se a falar-lhes do Reino de Deus, curando os que necessitavam. Ora, o dia começava a declinar. Os Doze aproximaram-se e disseram-lhe: «Despede a multidão, para que, indo pelas aldeias e campos em redor, encontre alimento e onde pernoitar, pois aqui estamos num lugar deserto.» Disse-lhes Ele: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Retorquiram: «Só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que vamos nós mesmos comprar comida para todo este povo!» *Eram cerca de cinco mil homens. Jesus disse aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta.» Assim procederam e mandaram-nos sentar a todos. Tomando, então, os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que os distribuíssem à multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e, do que lhes tinha sobrado, ainda recolheram doze cestos cheios” [Lc 9,10-17]. Pistas de interpretação Texto 1: o sogro de Moisés (Jetro) sugere a descentralização e a partilha do poder: prepara-se uma relação social baseada na liberdade, na vida e na dignidade de todos diante de todos e de Deus. O Antigo Testamento preconiza uma sociedade igualitária onde a única autoridade é a Deus que liberta para a vida. Texto 2: os apóstolos que são o início de uma nova comunidade têm como missão perceber e socorrer o povo que passa fome e de sugerir com o exemplo a parilha de bens. Deus do pouco faz muito. O pão da Eucaristia sendo pouco torna-se muito (pleno) pela presença real de Jesus Cristo. A Eucaristia é dom de Deus para a humanidade. Questões: Estas pistas de uma nova sociedade fazem sentido? Já fizeste alguma coisa para construir uma nova sociedade? Conheces algum grupo ou movimento que esteja empenhado em construir uma nova sociedade? Apresenta as tuas ideias sobre a (nova) sociedade (mínimo 20 linhas). Próximo encontro no dia 12 Dezembro às 21h;
[Texto realizado para o encontro de formação para a Celebração do Sacramento da Confirmação - Melgaço]

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

I(e)srael e Jordania

Duas imagens (Petra - uma das 7 maravilhas do mundo - e o Muro das Lamentações; dois paíes (Israel e Jordania); duas religiões (judaica e muçulmana);
Um padre católico usdando símbolos religiosos e etnográficos em sinal de respeito. Culturas tão diferentes e tão próximas.
Os sete dias em Israel e na Jordania foram cheios de emoções, de cheiros, de cores, de sabores ... outro dia voltaremos a falar sobre isto.

domingo, 15 de novembro de 2009

São Martinho

É tempo da castanha
A alegria do povo
Que rega e acompanha
Com vinho novo
Nos últimos dias, a castanha tem sido raínha nos magustos de São Martinho. A chuva e o vento que este fim de semana nos visitaram relembram o acto maios conheciso e simbólico de Martinho - a dádiva de metade da sua capa a um pobre mendigo num dia de chuva (que ele identificou com Cristo). São Martinho é para nós sinal e exemplo do dar-se, da caridade que nasce do amor a Cristo. Que por entre as castanhas e o vinho novo nos fique esta mensagem!

sábado, 14 de novembro de 2009

IV - Um olhar sobre a sociedade

Nos últimos encontros reflectimos sobre a nossa identidade enquanto pessoas. Vimos que a identidade da pessoa está em permanente construção e que vários são os factores que concorrem para a construção da identidade. Neste contexto hoje vamos olhar para a realidade que nos rodeia, na qual vivemos e estamos inseridos. Focamos apenas três questões mas muitas outras poderiam ser abordadas.
Aldeia Global Vivemos na chamada ‘aldeia global’ em que as situações, os dramas e as alegrias do mundo nos entram pelos olhos dentro quando estamos no sofá a descansar, quando estamos no trabalho ou quando vamos na rua. Entram-nos nos olhos pelos meios de comunicação em massa: televisão, internet, jornais, rádio, entre outros. O nosso olhar habitua-se a ver o que quer ver e o que não quer; os nossos ouvidos escutam o que querem e o que não querem. Vemos e ouvimos e nem paramos para pensar sobre isso. Os meios de comunicação podem passar de uma imagem de profunda pobreza em África a um desfile de moda em Paris numa fracção de segundos. Entram-nos as imagens sem contexto (por vezes, com texto truncado, preconceituoso e pobre) e nós habituamo-nos a vê-las sem fazer distinção. O drama da pobreza em África ou o desfile de moda em Paris produzem o mesmo efeito em nós sendo situações completamente diferentes. Com este processo tornamo-nos indiferentes porque tudo parece estar tão perto e tão longe; tudo vem e vai a uma velocidade estonteante. Somos bombardeados com informação e nem sequer temos tempo para a formatar. Tantas vezes, a indiferença perante as situações é transportada do virtual para o real – parece-nos a mesma coisa!
A sociedade de consumo Vivemos em plena sociedade de consumo produzida e perpetuada pela maior parte dos meios de comunicação em massa. Grande parte dos meios de comunicação está nas mãos de grandes grupos económicos que apenas pretendem aumentar o lucro. Assim, importa ter dinheiro a qualquer custo para poder ‘reinar’ nesta realidade que cria desejos e a sua satisfação continuamente numa situação de eterno retorno na lógica do desejo e da satisfação. Diante deste panorama cresce o número de excluídos, de dominados e subjugados pelo sistema que entram em desanimo e em depressão.
Política (bem público) e o futebol A política gira dentro da ‘sociedade de consumo’ e da ‘aldeia global’, como em tudo, com as vantagens e desvantagens inerentes. A política como serviço do bem público, muitas vezes, fica de lado e é dominada pela corrupção – pelo serviço de alguns. Isto acontece porque as pessoas (que constituem a sociedade) se demitem de reflectir sobre as acções dos seus políticos e de exigir mais e melhor serviço público. Portugal vive em crise desde há muito tempo porque os seus cidadãos se demitem de se inscrever (José Gil) nos actos da comunidade. Crise esta que dentro da ‘aldeia global’ se atira para a crise mundial. Nós não temos culpa! Limitamo-nos a reagir e nunca a agir no tempo oportuno. Os cidadãos - que são os habitantes de um país – são os responsáveis pelo andamento (ou não) desse mesmo país. Os portugueses demitiram-se de olhar para o seu país; demitiram-se de discutir o que é fundamental em política de investimentos, de mercado de trabalho, de economia e finanças e digladiam-se em questões marginais. Basta ver, neste contexto, quais são as prioridades do nosso governo (legalizar o casamento gay). E as questões fundamentais? Em Portugal existem 3 ou 4 jornais diários desportivos (futebol) que são dos mais lidos (a par de outras tantas revistas cor de rosa). O futebol discute-se em qualquer canto – em certos lugares com discussões bem acesas e azedas. Se os portugueses lessem e discutissem com tanto entusiasmo as questões politicas e económicas do nosso país como isto seria diferente. Confesso que gosto de futebol e do meu Benfica. Mas poderá o futebol ocupar o lugar central do meu dia, das minhas discussões e dos meus interesses? Para mim não!
Palavra de Deus "Jesus percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. - Disse, então, aos seus discípulos: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe» " (Mt 9, 35-38).
"Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles devia ser considerado o maior. Jesus disse-lhes: «Os reis das nações imperam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. 26Convosco, não deve ser assim; o que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve. Vós sois os que permaneceram sempre junto de mim nas minhas provações" (Lc 22, 24-28).
Questões: Esta descrição corresponde à realidade? Já tinhas pensado sobre isto? Apresenta a tua visão da realidade fazendo o contraponto com os dois textos da Palavra de Deus (mínimo de 20 linhas).
Próximo encontro no dia 28 de Novembro às 21h;
[Texto realizado para o encontro de formação para a Celebração do Sacramento da Confirmação - Melgaço]

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Felizes os que andam no Senhor

Deus que é amor (1 Jo, 8), criou-nos para o amor e para a felicidade. Deus quer-nos felizes porque nos ama. A felicidade é o nosso objectivo de vida. Ninguém em perfeita saúde mental quer ser infeliz. A felicidade é posta de parte pelo pecado, pela ausência de Deus. Jesus encarnou, sofreu a paixão, morreu e ressuscitou para nos oferecer a possibilidade de sermos felizes. "Na sua carne crucificada, a liberdade de Deus e a liberdade do ser humano juntaram-se definitivamente num pacto indissolúvel, válido para sempre. Também o pecado do ser humano ficou expiado, uma vez por todas, pelo Filho de Deus" [Bento XVI, Sacramento da Caridade, nº 9]. A ressurreição orienta e sustenta o nosso desejo de felicidade. A felicidade é dom, é dádiva e cabe a cada um de nós acolhê-la ou não em liberdade. "A felicidade faz parte da nossa fé. (…) Se a fé é um compromisso com Deus, a felicidade é também o seu fruto" [Marcovits, 2008, p.5]. A Sagrada Escritura tem muitas expressões começadas por ‘felizes’ – cerca de uma centena. Alguns exemplos:
"Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria!" (1 Rs 10,8). "Feliz aquele a quem é perdoada a culpa e absolvido o pecado. Feliz o homem a quem o SENHOR não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano" (Sl 32,1-2). "Feliz o homem que confia no SENHOR" (Sl 40,5). "Felizes os que crêem sem terem visto!" (Jo 20,29). "Feliz o homem que resiste à tentação, porque, depois de ter sido provado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam" (Tg 1-12).
São pequenas frases, são "portas laterais da vida cristã" [Marcovits, 2008, p.6+ mas que devem ilustrar e animar a nossa vida de crentes. "São marcas de referência concretas, simples, humanas, frequentemente optimistas sobre o caminho que conduz a Deus e à felicidade de sermos todos irmãos e irmãs. São uma arte de viver" [Marcovits, 2008, p.6]. Neste contexto o Sermão da Montanha ou o Sermão das Bem-aventuranças (Mt 5, 1-12; Lc 6, 20-23) são as mais conhecidas. Elas são como que um resumo das Escrituras. Como diz o Catecismo da Igreja Católica "as bem-aventuranças estão no coração da pregação de Jesus" (CIC nº 1716). É a nova Lei, o novo código ético que Jesus entrega aos seus discípulos e que os discípulos entregaram aos nossos pais de geração em geração e que são o tesouro, a herança que nos cabe guardar, preservar e transmitir às novas gerações.
"Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu" (Mt 5,3)
Jesus declara que o Reino do Céu será dos pobres. Naquela época, como na nossa, proclamava-se bem-aventurada a riqueza e não a pobreza. No entanto cresce no seio do judaísmo a convicção de que os pobres (anawim) que vivem sob o domínio dos poderosos se viverem honestamente e praticarem a justiça serão recompensados por Deus. "A pobreza bem-aventurada deve ser acompanhada e determinada pela simplicidade de coração, pela convicção profunda da necessidade que o homem (o ser humano) tem de Deus, pela integridade de vida, pela abertura aos outros" [Comentários à Bíblia Litúrgica, p. 804]. A pobreza interior é condição para entrar no Reino porque o pobre abre o coração à dádiva, encontra-se disponível para receber.
Felizes os que choram porque serão consolados (Mt 5,4)
Deve entender-se esta bem-aventurança à luz da consolação trazida pelo Messias Salvador, por Jesus. Ele vem consolar todo o sofrimento humano. Vem resgatar-nos do pecado (entenda-se como tudo o que nos afasta de Deus) – causa do sofrimento. Jesus venceu o pecado, a dor, a morte, particularmente, no momento da Ressurreição. "Consolai, consolai o meu povo, é o vosso Deus quem o diz" (Is 40,1). O nosso Deus é um Deus misericordioso disposto a enxugar todas as nossas lágrimas - na tribulação, no choro, a esperança e a confiança da presença amorosa de Deus. Em jeito de conclusão: a felicidade (verdadeira) vem do amor que Deus deposita em cada um de nós ao qual correspondemos. Como Catequistas somos transmissores, anunciadores e testemunhas do amor de Deus. O nosso optimismo, a nossa confiança são fruto da nossa fé e da nossa confiança amorosa em Deus.
Bibliografia: Bíblia Sagrada; Catecismo da Igreja Católica; Bento XVI, Sacramento da Caridade - Exortação Apostólica pós-sinodal, Ed. Paulinas (2007); As pequenas Bem-aventuranças, Paul-Dominique Marcovits, Paulus Editora (2008);
[Texto realizado para Encontro de Espiritualidade com Catequistas – Arcos de Valdevez]

sábado, 31 de outubro de 2009

III - Identidade: sentimentos e percepções

[O encontro começa com seis imagens (que expressem sentimentos) das quais os participantes têm que escolher uma; depois fazem os grupos respectivos e apresentam as razões da escolha – elegem um porta voz e apresentam as suas conclusões em plenário.) A construção da identidade é um processo contínuo. Vamos conhecendo a pessoa (a sua identidade) pelo que faz e pelo que manifesta. Os sentimentos mostram ou demonstram como a pessoa reage, no fundo, o que a pessoa é. Podemos dizer que os sentimentos são parte integrante e importante da pessoa; através dos quais se mostra (se revela). Falamos em sentimentos e emoções ao que se refere à forma de sentir tristeza, dor, alegria, paixão, amor, ódio, medo, coragem (entre muitos outros); ou à maneira de receber gestos de carinho, afecto, ternura - ou ao modo de agir e reagir ao relacionamento com os outros; ou ainda ao querer bem ou mal a nós próprios e aos outros. Os nossos sentimentos podem comparar-se, no seu conjunto, ao nosso ‘código genético’ ou às nossas ‘impressões digitais’. Em cada um de nós existem marcas que nos identificam e distinguem; situações e acções que, muitas vezes, não podemos expressar por palavras, como por exemplo, o chorar, o sorrir, o beijar … (é a dita linguagem dos sentimentos). Mas os sentimentos são genéticos? Isto é, não podemos fazer nada para os modificar? A resposta é: sim podemos! Em muitos casos devemos! Os nossos sentimentos são fruto ou consequência de muitas situações do presente e do passado da nossa existência; nomeadamente da nossa infância (0 a 5 anos) por causa da capacidade que a criança tem para imitar e assimilar o que fazem os adultos. O ambiente social, familiar, religioso, escolar, pode ter muita influência no comportamento das pessoas. Mas, depois, vamos crescendo e amadurecendo a nossa forma de ser, de agir e de sentir. Isto é, nós podemos identificar/conhecer a nossa forma de sentir, de agir e paulatinamente corrigir ou moderar essas situações. Muitas vezes, a descoberta dos sentimentos (como a amizade ou o amor geralmente associado à paixão) estão envoltos no sofrimento porque as experiências defraudaram as expectativas (não corresponderam ao sonhado). Toda a ferida (o corte) tem que ser tratada (curada) o mesmo se passa de forma análoga relativamente aos sentimentos. Importa ‘curar’ e não ficar refém das cicatrizes. Não nos podemos excluir de sentir (não podemos evitar de amar). Deixar o coração fechado e amargurado é um erro terrível. O ser humano tem que ser livre para os sentimentos: para o amor, para a amizade, etc. Por exemplo, o tempo de namoro é uma fase de conhecimento pessoal na relação com o outro. Tempo para conhecer as qualidades e os defeitos, para descobrir se os ideais e projectos de vida se cruzam e correspondem. O tempo de namoro terá que levar a uma passagem do ‘amor à primeira vista’ para um amor sincero, sólido, um amor com projecto e com futuro. Palavra de Deus: “Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?» Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. E foram para outra povoação” (Lc 9, 51-56). “Quando Maria chegou ao sítio onde estava Jesus, mal o viu caiu-lhe aos pés e disse-lhe: «Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido.» Ao vê-la a chorar e os judeus que a acompanhavam a chorar também, Jesus suspirou profundamente e comoveu-se. Depois, perguntou: «Onde o pusestes?» Responderam-lhe: «Senhor, vem e verás.» Então Jesus começou a chorar. Diziam os judeus: «Vede como era seu amigo” (Jo 11, 32-36). Pistas de interpretação: O primeiro texto narra-nos a hostilidade dos samaritanos para com Jesus; os discípulos querem retribuir da mesma forma mas Jesus impede-os; o mal nunca produz o bem; só o perdão é agente de mudança; Jesus ensina os seus discípulos (os cristãos) a reagir perante a dificuldade de forma positiva perdoando. Neste trecho de São Lucas estão implícitos os sentimentos de Jesus. O segundo texto narra a morte de Lázaro que causa grande sofrimento às suas irmãs Marta e Maria. Jesus vai lá confortar as suas amigas e honrar o seu amigo e comove-se, isto é, chora. Aqui Jesus manifesta claramente os seus sentimentos. Chora porque Lázaro era seu amigo. Questões: Conheço os meus sentimentos? Quais predominam na minha vida? Os meus sentimentos manifestam a minha fé? Dá alguns exemplos!
[Texto elaborado para o terceiro encontro de preparação para a Celebração do Sacramento da Confirmação - Melgaço 2010]

No silêncio de Oseira

Esta semana, o clero de Melgaço, para assinalar o Ano sacerdotal reuniu-se em ambiente de oração e reflexão na Abadia Cisterciense de Santa Maria de Oseira - Orense, Espanha.
No meio das montanhas o silêncio da cadência dos dias e das melodias dos salmos entoados pelos monges no coro alto da Igreja da Abadia.
Este lugar construído durante seis séculos (séc. XII a XVIII) e reconstruído durante oito é um livro aberto de arte em louvor do nosso Deus. As abóbadas em pedra ou os altos-relevos falam do artista e do Seu Criador.
Neste tempo pudemos reflectir sobre o texto do Papa Bento XVI para Ano Sacerdotal; frisando as dimensões do dom e do serviço que cada um de nós transporta em frágeis vasos de barro.
Durante este tempo fomos acolhidos pelos monges (12) na sua casa e participamos em alguns momentos de oração da comunidade. Num ambiente austero e acolhedor vivem os monges em clausura dedicando-se à oração e a algum trabalho manual que lhes assegura a sobrevivência. Neles vê-se uma entrega total. O irmão Luís é o que trata das visitas e dos quartos. Pequeno e sorridente a todos acolhe com simplicidade e com simpatia. Este trabalho parece adequado àquela pessoa. E é. Mas este pequeno frade é um poço de sabedoria em arte propriamente dita e na arte de servir. É formado em arte e um artista comprovado com centenas de pinturas, esculturas e outras tantas exposições. Porque anda um homem destes a tratar de quartos? Porque na humildade do trabalho reforça os laços da comunidade; depois da oração (em primeiro lugar), da limpeza dos quartos e da recepção dos hóspedes ainda encontra tempo para pintar. Na humildade e no serviço está a grandeza deste frade e de qualquer pessoa (esta foi uma grande lição há muito aprendida mas tantas vezes esquecida).

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O cozer do pão na Ameijoeira

O cozer do pão de centeio e trigo, no forno comunitário, ainda é uma realidade em Castro Laboreiro. Estes dias passava no lugar de Ameijoeira, em plena raia, quando vi o fumo a sair no forno comunitário. Parei para tirar fotografias e para conversar. As senhoras Zulmira, Angelina, Brazelina e Sara preparavam-se para cozer o pão. Estavam a cortar giestas e urzes para aquecer o forno enquanto que outras deitavam farinha e preparavam a massa em 'boroas' para ir ao forno. Pouco tempo depois já saía o 'bolo' (pequena 'boroa' que se coze antes que as outras) do qual me ofereceram e com o qual me deliciei: quente, macio e fofo ... que maravilha!
Noutros lugares (como na Ameijoeira) a tradição mantem-se e continuam a cozer o pão nos fornos comunitários de Castro Laboreiro; menos vezes, mas com o mesmo sabor e qualidade que perpassa gerações. Pena é que não seja em todos e que nem todos sejam preservados. Preservar para perpetuar a memória e a identidade de um povo.

II - Quem sou?

Para podermos responder à pergunta – ‘O que é ser cristão?’ – temos que em primeiro lugar perceber quem somos. Quem sou eu? Que sentido tem a minha vida? Importa referir, antes de mais, que não é fácil apresentar a nossa identidade pois somos seres em construção, em crescimento. No entanto, os traços fundamentais e fundacionais que nos identificam permanecem. Partir em busca da descoberta de nós próprios é um grande mistério. Muitas perspectivas podem ser apresentadas mas em sentido cristão nós somos criaturas de Deus. Criados para a liberdade e para a felicidade. A dignidade da pessoa humana radica, funda-se, no facto de ser criatura de Deus – porque todos (os humanos) somos criaturas todos temos a mesma dignidade aos olhos de Deus e aos olhos dos outros. Criados para e na liberdade; Deus não nos aprisiona mas dá-nos a possibilidade de O escolhermos ou de O negarmos; de fazermos o bem ou o mal. Na liberdade desafiados à responsabilidade para com Deus e para com a humanidade. A nossa identidade constrói-se na relação com Deus e com as outras pessoas. A noção de identidade aperfeiçoa-se e desenvolve-se na relação e na alteridade. Não existem duas pessoas iguais. Num grupo restrito ou na sociedade crescemos uns com os outros na afinidade ou na disparidade das opiniões. Na relação e no conhecimento do outro nasce o amor – ‘ninguém ama o que não conhece’. Criados por Deus para a felicidade somos homens e mulheres (masculino e feminino). Na diferenciação dos sexos construímos a nossa identidade. O nosso corpo (templo do Espírito Santo como nos diz São Paulo – 1Cor 6,19) merece-nos todo o respeito e atenção. Quanto tempo gastamos por dia a tratar do nosso corpo? (refeições, higiene, lazer, etc) O nosso corpo limita e possibilita as relações – sem corpo não fazemos nada. Por isso, como homem ou mulher tenho que conhecer, valorizar e respeitar o meu corpo, a minha sexualidade, a minha afectividade integrando tudo no projecto de Deus a meu respeito. Em síntese: visões do corpo na sociedade de hoje 1) Visão racista: despreza o outro só porque não tem a mesma cor, não é da mesma raça ou do mesmo sexo; 2) Visão comercial: dá valor somente às aparências, à beleza exterior, usando o corpo como propaganda de produtos (para vender e lucrar mais); 3) Visão produtiva: só valoriza o corpo pela sua capacidade de produção; o corpo vale enquanto produz, enquanto é fonte de aumento do capital; 4) Visão negativa: o corpo é feio e disforme logo há que o esconder; o corpo causa medo e vergonha; 5) Visão egocêntrica: o corpo é meu logo posso fazer dele o que quiser (sexo, álcool, droga); não tenho respeito por mim nem pelos outros; 6) Visão cristã: o corpo do homem e da mulher foi criado à imagem e semelhança de Deus. Não é resultado do acaso mas da vontade amorosa de Deus. O corpo dá-nos possibilidade de revelarmos a nossa identidade e a nossa dignidade. Palavra de Deus: “ «Tudo me é permitido», mas nem tudo é conveniente. «Tudo me é permitido», mas eu não me farei escravo de nada. Os alimentos são para o ventre, e o ventre para os alimentos, e Deus destruirá tanto aquele como estes. Mas o corpo não é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo. E Deus, que ressuscitou o Senhor, há-de ressuscitar-nos também a nós, pelo seu poder. Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Iria eu, então, tomar os membros de Cristo para fazer deles membros de uma prostituta? Por certo que não! Ou não sabeis que aquele que se junta a uma prostituta, torna-se com ela um só corpo? Pois, como diz a Escritura: Serão os dois uma só carne. Mas quem se une ao Senhor, forma com Ele um só espírito. Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que o homem cometa é exterior ao seu corpo, mas quem se entrega à impureza, peca contra o próprio corpo. Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis? Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.” [1Cor 6,12-20] Pistas de interpretação:
Paulo contesta a doutrina dos gnósticos libertinos que defendiam que tudo quanto é corporal não interfere na vida espiritual fundamentando-se na doutrina da criação. O corpo interessa a Deus que o criou. O cristianismo está atento à materialidade e à dimensão temporal do humano. O sexo enquadra-se nesta perspectiva e destina-se à realização total da pessoa humana. Paulo escreve este texto para se opor ao culto idolátrico praticado em Corinto no templo de Afrodite em que os fiéis se uniam sexualmente à prostituta sagrada para comunicar com a divindade que ela representava. Ora os cristãos são templos do Espírito Santo e estão unidos a Cristo logo a sexo sagrado não tem sentido, pode ver-se como apostasia (negação de Deus). ‘Pecar contra o próprio corpo’ não se refere ao pecado materialmente sexual mas ao pecado de idolatria. A prostituição sagrada destruía a própria essência do ser cristão. O sexo faz parte do Projecto criador mas não pode ser visto como um brinquedo, um capricho ou uma manifestação de egoísmo mas uma abertura ao outro e um serviço à humanidade. O cristão tem que compreender o que leva à realização e ao crescimento da pessoa humana; criado por Deus para a liberdade não se deve deixar escravizar por nada nem ninguém, nem mesmo pelo próprio corpo.
Questões: O que entendes por liberdade e felicidade? Sinto que me conheço? Qual é a minha visão do corpo? Porque existem visões diferentes? Próximo encontro no dia 31 de Outubro às 21h
Texto para o II Encontro de preparação para a Celebração do Sacramento da Confirmação em Melgaço

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Nobel da Paz

O nobel da Paz foi entregue a Barack Obama "pelos seus extraordinários esforços para reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos". O mundo recebeu esta notícia com espanto (como o próprio premiado), como não pederia deixar de ser. Espanta não porque seja espantoso ou fenomenal mas porque parece algo demasiado hipócrita e desonesto. O Presidente dos Estados Unidos da América de facto encarou o mundo e a política externa americana com outro olhar, pelo menos diferente da do seu antecessor, mas daí até merecer o prémio Nobel vai uma grande distância. Obama colocou o unilateralismo americano em banho-maria mas o cozinhado continua a fazer-se. O estilo arrogante e autoritário com que enfrentam tudo e todos não desapareceu, apenas está dormente.
Agora que ganhou que encontre coragem, vontade e determinação por o merecer (como o mundo ficaria agradecido); que apresente propostas e resultados concretos de uma verdeira luta pela paz. O desarmamento nuclear poderá ser o seu campo de batalha (como afirmou o Padre Lombardi, porta-voz do Vaticano), assim o queira!
Entregue pela primeira vez em 1901, o Prémio Nobel da Paz foi idealizado pelo sueco Alfred Nobel, químico inventor da dinamite. Ele morreu em 1896, deixando a maior parte de sua fortuna dedicada à premiação de grandes feitos em diversas áreas do conhecimento.

Curso Geral de Catequese em Melgaço

Hoje começa, em Melgaço, o Curso Geral de Catequese. Os catequistas são convidados a aprofundar e a sistematizar a doutrina cristã, a pedagogia e a psicologia na Catequese. Estas dimensões de formação enriquecerão os catequistas e a catequese que fazem. Esta é uma oportunidade única!
Com este tempo de formação queremos formar catequistas conscientes da sua Missão e conhecedores das metodologias e dos elementos fundamentais da fé. Só com Catequistas bem formadas poderemos ter uma Catequese activa e motivadora e, ao mesmo tempo, esperar uma nova geração de cristãos mais conscientes e mais preparados para viver a fé no dia-a-dia.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

'De produndis' de António Lobo Antunes

Lobo Antunes escreveu para a Revista Visão, esta semana, uma crónica que intitula 'De profundis'. Esta crónica, como muitas outras que li de Lobo Antunes, fez-me pensar! O autor faz uma abordagem à sua relação com Deus; curiosamente, a distância com que escreve mostra a proximidade com Deus. Lobo Antunes mostra uma relação de proximidade numa luta diária com Deus (Miguel Torga, outro grande homem da nossa literatura, pisou, talvez de forma mais dolorosa, os mesmos caminhos que Lobo Antunes na proximidade e no afastamento de Deus).
E cito: "A minha relação com Deus tem sido sempre tumultuosa, cheia de desacordos e discussões: longos períodos em que me afasto, alturas em que me aproximo, amuos, quase insultos, discussões. Creio firmemente que, nos livros que escrevo, é Ele que guia a minha mão e não passo de um instrumento da Sua vontade".
Outras partes da crónica poderia citar ou então transcrevê-la toda mas fico-me por este parágrafo que me parece fantástico.
Lobo Antunes, para mim, é um grande homem das letras e dos livros mas os seus livros não os consigo ler; são duros, demasiado introspectivos, sei lá, quase esquizofrénicos e por isso não leio; por outro lado, estas crónicas são fantásticas quando ele fala dele próprio e das suas vivências e ouvi-lo é muito bom - mostra humildade e erudição (saber) coisa que muito aprecio.
Peguei neste texto porque ilustra bem como tem que ser uma relação sincera com Deus e com a própria pessoa - uma luta diária e não um adormecimento diário; Deus, a religião e a fé não anestesiam a pessoa antes a potenciam e a elevam na sua dignidade e compreensão do mundo e de si mesma. O pecado não está na dúvida, na luta, na angústia mas no adormecimento, no esquecimento e no relativismo face a Deus e à humanidade.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

I - O que é ser cristão?

Neste tempo em que vivemos importa colocar a questão: ‘o que é ser cristão?’ Fazer e responder a esta pergunta não é um mero ‘perder de tempo’ porque se trata da pergunta e da resposta fundamental acerca da identidade cristã. Nos dois mil anos de história cristã passaram-se muitas coisas – boas e más. Importa, depois de tantos acontecimentos, reconhecer o que é realmente cristão católico e pôr de parte tudo o que de forma clara ou camuflada se fez passar por cristão. Do conhecimento da identidade cristã é que podemos formar uma Igreja (Povo de Deus) de fiéis conscientes e comprometidos. Se não tomarmos consciência da nossa identidade tudo e nada vale (impõe-se o relativismo moral sobre o qual o Papa Bento XVI tanto tem falado); não conseguimos dar valor ao que é realmente importante e ficámo-nos pelo que é acessório e secundário. Não se trata de uma procura da identidade para nos fecharmos nela mas para podermos dialogar e colaborar com todos com sentido crítico e construtivo. A busca e o encontro da identidade está nas fontes do cristianismo: Jesus Cristo; Palavra de Deus; Igreja; Sacramentos. Jesus é primeira referência à volta da qual tudo gira e para a qual tudo se encaminha. Tendo em conta estes elementos encontramos a nossa identidade como cristãos. É no acolhimento destas realidades e no confronto com a vida e com as pessoas que connosco convivem no dia-a-dia que nós crescemos como cristãos. Durante esta caminhada até ao Verão vamos procurar, em breves pinceladas, responder a esta questão da identidade cristã. Pois, como veremos, o Sacramento da Confirmação é o Sacramento da maturidade e da responsabilidade cristã a nível cristão, humano e social. Para melhor aprofundar e responder a esta e a outras questões, responde em consciência e de forma concisa às questões que te colocamos: Qual a razão de querer celebrar o Sacramento da Confirmação? Estou consciente de que o cristão tem que ter identidade enquanto tal? Dá dois exemplos em que se manifeste a identidade cristã face ao pensamento e ao agir da sociedade em que vivemos. Próximo encontro no dia 17 de Outubro às 21h;
[Texto elaborado para o 1º encontro de formação com os crismandos do Arciprestado de Melgaço]

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

No teu deserto, de Miguel Sousa Tavares

No teu deserto é a última obra publicada por Miguel Sousa Tavares. O filho de Sophia de Mello Breyner Andresen conduz-nos, numa narrativa simples e táctil, até ao deserto; o deserto como espaço físico e psicológico. Este livro enquadra-se no estilo de literatura light, muito em voga, mas, ao mesmo tempo, para um leitor atento, pode abrir perspectivas de reflexão muito interessantes. O quase romance de Miguel Sousa Tavares é a narrativa de uma viajem às entranhas do deserto do Sahara. O autor pega numa fotografia, há muito tirada, para fazer uma ponte entre a memória do presente e a realidade do passado. A fotografia catapulta o leitor para a viagem ao deserto que começou em Lisboa com a arrumação no jipe (UMM) de tudo o que era necessário para a aventura. Cláudia, a companheira de viagem do autor pelo deserto, tinha um sorriso onde “cabia toda a ilusão do mundo”. A ilusão de entrar no deserto torna-se uma aventura fantástica e surreal. O autor aproveita para dar umas pinceladas, aqui e acolá, sobre a vida, a cozinha, os cheiros, a política, sobre qualquer coisa, até chegar ou para chegar ao deserto; exagera na descrição da entrada no ferryboat e na obtenção de autorização para filmagem no Ministério da Informação em Argel. Em pleno deserto surgem os grandes ‘arrebatamentos’ de sentido: “A terra pertence ao dono, mas a paisagem pertence a quem a sabe olhar” (filosofia improvisada a metro!). E assim embevecidos adentram-se do deserto e de si mesmos. Miguel Sousa Tavares viaja pelo deserto como repórter onde fotografa, filma e escreve procurando apreender o máximo de informação. Cláudia sem nenhuma função (“a minha tarefa era deixar-me conduzir por ti, entre a lucidez e o sonho”), a não ser ir ao deserto, ajuda-o no trabalho e na percepção das realidades mais simples como o contemplar das estrelas, qual manto de luz que a todos cobre! Lado a lado no UMM descobre que “a coisa mais difícil e mais bonita de partilhar entre duas pessoas é o silêncio”. E no silêncio surgem as palavras. “Escrever é usar as palavras que se guardam: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer”. No silêncio encontramo-nos e conhecemo-nos tal como somos. Hoje temos medo do silêncio e então usamos todas as formas para preencher a nossa vida de ruídos: telefonemas; SMS; mails; Hi5; facebook, e demais redes sociais. No virtual pensamos que temos o mundo a nossos pés e, no entanto, não aguentamos um dia de solidão. O deserto e o silêncio incomodam porque exigem mudanças. Muitas vezes temos que fazer deserto para no silêncio descobrimos quem somos. O silêncio fala a quem o sabe escutar! (in Zebrisco do Alto Mouro, p.5 *Ano III*Nº 8* Agosto de 2009)

Dois mundos!

O mundo movimenta-se e move-se de pequenos mundos (ou mundividências) interlassados uns nos outros. A disparidade de vivências aumenta o 'mundus' próprio de cada um.
Passei por Ourense e visitei o seu casco histórico (a zona mais antiga da cidade) nomeadamente a magnifica Catedral construída entre os finais do século XII e o início do século XIII sendo por isso um románico de transição.
Enquanto caminhava observei o bulício da cidade: pessoas a trabalhar, a passear, a beber um copo ... muitos reformados a conversar em alegre bonomia. O nível de vida, quer queiramos ou não, é superior ao nosso! Não necessariamente económico mas de mentalidade, de jovialidade ... de viver sem carregar um peso enfadonho que a todos agrilhoa.
Neste deambular, numa pequena praça, vi uma igreja aberta e entrei ... o Santissimo estava exposto - tinha entrado na capela de um convento de irmãs contemplativas. Fiquei um pouco em oração e saí a pensar nos dois mundos presentes naquele espaço. O barulho, a confusão da cidade e o silêncio orante do convento. Mais ... paredes meias ao convento funcionava um café/restaurante onde acabei por almoçar. Mundos diversos e distintos mas não necessariamente opostos. A sabedoria de integrar estas duas dimensões da vida não é fácil mas é absolutamente necessária!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

XXVI Assembleia Diocesana de Catequistas

No próximo dia 4 de Outubro realiza-se a XXVI Assembleia Diocesana de Catequistas na 'Casa das Artes' nos Arcos de Valdevez.
Os Catequistas são convidados a uma participação activa na sua formação permanente para responder de forma responsável e actualizada à exigente Catequese que a nossa sociedade nos pede. A assembleia tem como tema 'A Palavra de Deus na Catequese' e pretende responder e colocar interplações à centralidade da Palavra de Deus na Catequese.
O encontro será orientado pelos Salesianos e os Catequistas poderão participar em dois atelieres dos seguintes: 'música e Palavra de Deus na Catequese'; 'Lectio divina e Catequese'; 'Rezar com a Palavra de Deus' e 'usar filmes bíblicos na Catequese'.
O encontro conta ainda com um concerto "As parábolas de Jesus" e terminará com a Eucaristia na igreja Matriz.
Certamente que serão momentos únicos de crescimento na fé,na pedagogia catequética e no convívio entre Catequistas!
09h00 Acolhimento
09h30 Oração da manhã
9h45 Conferência "A Palavra de Deus na Catequese - Desafios e propostas"
10h15 1º atelier
11h15 Intervalo
11h45 2º atelier
12h45 Almoço
14h45 Concerto "As Parábolas de Jesus"
15h30 Preparação para a Eucaristia (ensaio de cânticos)
16h00 Eucaristia

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ao ritmo dos dias!

Dois meses depois volto a escrever neste blog. Os dias começam a ter contornos de normalidade e a proporcionar que se escreva. Nos últimos tempos entre festas e festas (ainda não terminaram!) pouco mais se conseguia fazer.
O Verão com a chegada dos emigrantes fica mais colorido, mais intenso, mais (sei lá o quê) ... um misto de muita gente e de alegria mas, ao mesmo tempo, de confusão e de desabituação!
Nestes tempos vi de tudo (com excepção de ninguém ter subido [para cima d]o altar na minha presença) nas celebrações: entre chorar e rir em plena proclamação das leituras; entre entrar mudo e sair calado da igreja ou então falar, falar, menos no momento de resposta às invocações feitas pelo presidente durante a celebração ... umas vezes tive vontade de rir, outras de chorar, outras de berrar e sem ser obra minha (é do Espírito Santo) consegui passar por todas elas sem piorar as situações; louvado seja Deus! (Não se veja aqui uma critica directa a quem quer que seja; é apenas um desabafo, um lamento ...nem sei bem o que é?)
Como todos temos tanto que caminhar! Como estamos tão longe de perceber um bocadinho (um bocadinho que seja) da fé que dizemos praticar (tão sem sentido)!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O 1º aniversário Sacerdotal

No dia 27 comemoramos (eu, o Pe Arcélio, o Pe Nelson e o Pe Rui) um ano de Ordenação Sacerdotal. Já passou um ano! Num ano nós passamos pelo tempo e o tempo passa por nós; podemos sair derrotados (pelo tempo) ou vencê-lo tendo horizontes de esperança. E neste primeiro, ano como Sacerdote ao serviço do Povo de Deus, muitas vezes fui vencido pelo tempo e muitas mais venci o tempo abrindo novos caminhos cheios de esperança e de confiança no amor de Deus.
Num ano pude sentir a proximidade e a distância; a unidade e a dispersão; o apoio e falta dele; por parte das pessoas, dos colegas e até dos superiores. Mas mesmo quando chove encontramos capacidade para aguardar e acolher com esperança o raiar do sol!
Se o ano passado fomos ordenados na Sé Catedral cheia de pessoas, amigos e sacerdotes este ano celebramos juntos nas pequenas comunidades do Ribeiro de Baixo e de Cima em Castro Laboreiro. Poucas pessoas, uma capela simples mas o mesmo mistério da Eucaristia.
Neste ano sacerdotal temos oportunidade para encontrar caminhos de amizade e de sinceridade do ministério ao serviço do Povo de Deus.
Recordo o lema do nosso ministério: "Nós trazemos em vasos de barro o tesouro do nosso ministério, para que se reconheça que um poder tão sublime vem de Deus e não de nós" (2Cor 4,7).

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Fim de ano Catequético em Melgaço

No passado Sábado o Secretariado Arciprestal de Catequese de Melgaço promoveu uma Actividade de fim de Ano Catequético. A manhã começou com uma caminhada até à branda de Mourim (Parada do Monte) onde as crianças, os pais e os catequistas (cerca de 150) foram convidados a descobrir traços do Apóstolo Paulo.
Findo o almoço fizeram-se jogos tradicionais; a animação e a alegria foram uma constante. A meio da tarde celebramos a Eucaristia e assim terminou a ctividade.
Agradeço a todos os que aceitaram o nosso convite: às crianças, aos pais, aos catequistas e aos párocos; nomeadamente aos que prepararam e participaram na actividade.
Aqui fica a mensagem que deixei às crianças:
Ao terminar mais um ano de Catequese juntamo-nos para caminhar como São Paulo caminhou até Jesus. Na Catequese fazemos caminho ao encontro de Jesus e Ele está sempre de braços estendidos para nos acolher e abraçar. Neste tempo de férias, que começamos, não nos podemos esquecer de Jesus. Alguém se esquece do melhor amigo? Claro que não! Então, durante as férias, vamos fazer festa com Jesus participando na Eucaristia. E depois de brincar, brincar, brincar, estaremos de volta para caminhar lado a lado com Jesus na Catequese. Obrigado(a) por seres amigo (a) de Jesus!
Boas férias

sábado, 4 de julho de 2009

Amanhece no Cando

Ao som das 4:30 da manhã levantei-me, que violência! Mas tinha que ser para poder estar acordado para celebrar a Novena no Cando às seis da manhã.
Um nevoeiro cerrado dificultou o percurso de Castro Laboreiro ao Cando e quem sofreu foi o carro de buraco em buraco.
Enquanto celebrava pude ver o nascer do sol e lembrei-me dos primeiros cristãos que ficavam a noite de Páscoa em vígilia e celebravam a Eucaristia ao nascer do sol, ao cantar do galo.
A capela cheia de gente acordada ouvia e celebrava com atenção.
Finda a celebração voltei a Castro ... o nevoeiro levantava-se, o orvalho derretia e por entre a neblina e o sol comiam os cavalos e os potros, as vacas e os bezerros e voavam lindos pombos bravos cheios de omponência. Assim amanheceu no Cando.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

São Bento do Cando

São Bento nasceu em Núrsia (centro de Itália) pelo ano 480 e morreu a 21 de Março em Montecassino decorria o ano de 546 ou 547. São Bento é o Patriarca dos Monges do Ocidente, é fundador da Ordem Beneditina, Patrono da Europa e um grande Santo de e para toda a Igreja. A sua obra mais conhecida é A REGRA na qual compilou um código vertido do Evangelho para ajudar, nomeadamente, os monges a caminhar para a perfeição e para a santidade. A ‘veranda’ ou ‘branda’ do Cando na Paróquia da Gavieira tem como patrono São Bento, mais conhecido por São Bento do Cando. Este lugar altaneiro da Freguesia da Gavieira acolhia os beneditinos que passavam a pé entre a Abadia de Amares e o Mosteiro de Fiães (Melgaço). Os Monges Beneditinos terão construído aqui uma pequena ermida à qual afluía e aflui muita população. De tal forma que se tornou numa das capelas de maior romaria desta região nomeadamente por altura da Novena e festa de São Bento, que estes dias inicia. Novena de 2009 3 de Julho, 20h – Eucaristia e Reflexão: O que é fazer uma novena? Eu Creio – Nós Cremos (CIC nºs 1-5); 4 de Julho, 6h – Eucaristia e Reflexão: Deus vem ao encontro da humanidade (CIC nºs 6-24); 5 de Julho,20h – Eucaristia e Reflexão: A resposta da humanidade a Deus (CIC nºs 25-32); 6 de Julho, 6h – Eucaristia e Reflexão: Creio em Deus Pai (CIC nºs 33-78); 7 de Julho, 20h – Eucaristia e Reflexão: Creio em Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus (CIC nºs 79-124); 8 de Julho, 6h – Eucaristia e Reflexão: Jesus Ressuscitou ao terceiro dia e a nossa Ressurreição (CIC nºs 125-135;202-217); 9 de Julho, 20 h – Eucaristia e Reflexão: Creio no Espírito Santo (CIC nºs 136-146); 10 de Julho, 11h Eucaristia e reflexão: Creio na Igreja Católica (CIC nºs 147-196); 21:30h Procissão de Velas e Reflexão: Maria Mãe de Cristo, Mãe da Igreja (CIC nºs 94-100; 196-199); 11 de Julho, 11h Eucaristia da Festa, Reflexão: São Bento e a encarnação do credo cristão numa vida concreta; o ser cristão hoje;
Uma das quadras usadas na Novena: 'São Bento benditíssimo De coração a vós clamo Valei-me em minhas angústias, Bem sabeis quanto vos amo.'

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Festas em Castro 2009

Como em todas as terras, pelo nosso Alto Minho, Castro Laboreiro vive o Verão em permanente festa de ermida em ermida. A dispersão dos lugares e dos povoados originam festas para todos e para todas as invocações.
Aqui se apresentam as festas do Verão:
Julho 5 – Nossa Senhora da Visitação - Padroeira (Igreja Paroquial) 10h Eucaristia e Procissão 12 – São Bento (Várzea Travessa) 9h Eucaristia e Procissão Agosto 2 – Nossa Senhora da Boavista (Cainheiras) 9h Eucaristia e Procissão 9 – Senhor do Bom Fim (Ribeiro de Cima) 9h Eucaristia e Procissão 15 – Senhor da Oliveira (Ribeiro de Baixo) 9h Eucaristia e Procissão 16 – Nossa Senhora de Monserrate (Coriscadas) 14:30h Eucaristia e Procissão 23 – Nossa Senhora dos Remédios (Rodeiro) 9h Eucaristia e Procissão Setembro 6 – Nossa Senhora do Numão (Anamão) 9h Eucaristia e Procissão 13 – Senhor da Boa Morte (Ameijoeira) 9h Eucaristia e Procissão 20 – São Brás (Assureira) 9h Eucaristia e Procissão 27 – São Miguel (Mareco) 9h Eucaristia e Procissão
Estas a somar às da Gavieira, Lamas de Mouro e do Santuário de Nossa Senhora da Peneda!
Uma maravilha!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

São João Baptista de Lamas de Mouro

A Igreja celebra a 24 de Junho o nascimento de João Baptista. Este Santo é o último profeta do Antigo Testamento e aquele que mostra diante de si o Messias esperado.
A Paróquia de Lamas de Mouro (Melgaço) tem como padroeiro, como santo principal da igreja, São João Baptista, por isso, estes dias está em festa.
A igreja paroquial atesta, por si mesma, (caracteristicas românicas) a antiguidade e a história deste povoado [para maior conhecimento podemos consultar O Couto de S. João de Lamas de Mouro: Suplemento histórico de José Domingues]. A mesma igreja apresenta-se com cara renovada no seu interior (como podemos observar na fotografia), agora que terminaram as obras de melhoramento do retábulo, do mobiliário litúrgico e dos tectos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Paulo de Tarso

"Paulo de Tarso. Um nome conhecido. Uma história bimilenar sussurrada. Aqui, um cantar desse nome e um contar dessa história, sussurrada por sons e imagens transtemporais. E palavras ..."
Estas palavras do convite sintetizam, de facto, o que se passa na representação cénica do Grupo de Teatro São João Bosco (Seminário Conciliar de Braga). Com alegria vi e ouvi esta peça teatral ou musical (deixo a discussão aos entendidos) que com arrojo e coragem, este ano, nos presenteou o grupo. É sempre bom recordarmos os momentos passados em palco e as horas a fio de ensaios (com melhor ou pior oraganização; com as novas piadas e as novas falas improvisadas; enfim, outros tempos - não tão distantes como, por vezes, parecem). Obrigado!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dia de Portugal e das comunidades!

A 10 de Junho comemora-se o dia de Portugal, de Camões e das comunidades. Para muitos, apenas é mais um feriado nacional (este ano sem praia!). Mas o que será comemorar Portugal, Camões e as comunidades? Certamente que poucos pensam sobre isso (e sobre o quer que seja)! Pensar incomoda como, por estes dias, andar à chuva!
Acontece que Portugal é um país que faz parte da União Europeia (a ver pela abstenção das últimas eleições europeias pouco importa) que tem uma identidade, que poucos se importam de preservar porque agora tudo e nada é importante e ao fim de contas tudo é difuso e irrelevante!
Já nem falemos de Camões porque esse ainda mais desconhecido é e menos importa! Lá está, é um dos marcos que ajudou a construir a nossa identidade que se esquece. E memória para quê?
Quanto às comunidades, por esse mundo além, talvez se viva mais Portugal pela ausência e pela distância do que por cá!
Tudo isto é fruto de um doentio encolher de horizontes que nos leva a viver de forma moribunda a pequenez da nossa existência.
"Não vemos mais longe do que a ponta do nariz, quer dizer, mais longe do que as nossas fronteiras, a nossa região, a nossa cidade, a nossa família e, por fim, mais longe do que os limites do nosso corpo" (José Gil, in Portugal, Hoje - O Medo de Existir, pp. 53-54). Isto será alguma coisa, certamente; não no essencial mas no real do nosso existir é, infelizmente!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O dia de Aljubarrota de Luís Rosa

Acabei de ler o último romance de Luís Rosa - O dia de Aljubarrota. Como todos os romances históricos, deste autor, é fantástico. Este livro centra-se, como o título indica, na batalha de Aljubarrota e na importância que ela teve para garantir e impor o nosso território como independente. Numa narrativa poética e povoada de imagens somos levados a rever a nossa história e a nossa identidade como povo. Somos tranportados para outro tempo que preparou o nosso; para o tempo que originaria novos rumos para a humanidade.
Curioso que ultimamente tenho lido menos mas este tipo de livros sendo simples me prendem e me fazem pensar; e como precisamos de pensar! A leitura faz-nos crescer, abrir horizontes e perspectivas. Infelizmente lê-se muito pouco! A leitura exige duas coisas fundamentais e inseparáveis: o silêncio e o tempo. Como não sabemos fazer silêncio não encontramos tempo nem motivação para a leitura. O silêncio permite encontrar tempo dentro de nós mesmos e este mais do que o tempo físico (do relógio) é que permite a aprendizagem dos dias e o descanso do olhar sobre o papel piltalgado de letras, cores, cheiros e emoções no folhear e desvendar de um livro.

domingo, 17 de maio de 2009

Um dia em números ou os números de um dia

7:45 O despertador saltou agitado, levantei-me e desliguei-o; fiz a higiene pessoal e vesti-me; na cozinha meti uma chávena de leite ao micro-ondas e cortei queijo para os 2 pães-de-leite; 1 iogurte de morango completou o meu pequeno-almoço para me ajudar a resistir durante a manhã que teimosamente acordou molhada e fria. 8:45 Liguei o carro e marcava 6 graus célsius; 9:00 Eucaristia em Lamas de Mouro – celebrei a Eucaristia para 27 pessoas das quais a mais nova tem 20 e tal anos e 90% tem mais de 50 anos. Terminada a celebração tive 20 e tal km pela frente numa estrada muito mal tratada pelos camiões que trabalham para as eólicas. No caminho predominavam o verde, o amarelo, o branco e o roxo de urzes e giestas. Passei por vacas e vitelinhos no pasto que na sua animalidade pastavam calma e tranquilamente. 10:30 Eucaristia na Gavieira – celebrei com 45/50 pessoas; 3 crianças acolitaram à celebração; 6/7 têm menos de 50 anos e a grande maioria tem mais de 60 e 70 anos. (A meio da celebração 1 cão entrou e foi colocar-se ao lado da sua dona; enquanto no exterior outros corriam e ladravam, por vezes, pareciam entender o que lá dentro se passava.) 11:15 Tomei café com alguns paroquianos; falamos sobre o tempo, a chuva e o frio, no fundo, sobre nada; uma conversa iniciada a divagar sobre o tempo dificilmente atinge profundidade, pode ser meio de conhecimento ou de ‘meter’ conversa mas nunca de aprofundamento de uma relação. 12:00 Chovia em todo a vale do Santuário de Nossa Senhora da Peneda e celebrei Eucaristia com os poucos presentes (27 pessoas – 4 adolescentes, 1 bebé, 1 casal jovem e os restantes idosos); o Santuário parecia ainda maior e impessoal (do frio) do que costuma ser. Enquanto celebrava foram saindo e entrando pessoas; uns entravam, paravam e rezavam; outros entravam e saiam como se de outro lugar qualquer se tratasse. 13:10 Entrei no restaurante e sugeriram-me leitão para o almoço, sugestão que aceitei e acompanhei com salada de alface e tomate (dispensei parte – quase toda – das batatas fritas); à sobremesa, a contrastar com o picante do molho do leitão, comi um abacaxi doce e agradável perfumado com um café (paguei 17.30€ - preço especial, parece). Enquanto almoçava ao meu lado estavam 2 caçadores (pareciam pela indumentária); 1 casal de namorados, visivelmente, apaixonadas; vários casais com crianças – uma delas fazia birras com a mãe e porque ela teimava em não a deixar sair para brincar batia-lhe e a mãe, inocente, ria-se (educar para quê?). 15:00 Encontro com delegados (10) de catequese do Arciprestado de Melgaço em Chaviães para planear uma actividade de fim de ano da Catequese, entre outros assuntos. 17:00 Visitei e orientei a oração num velório em Castro Laboreiro; 18:00 Atendi 1 par de noivos (Cristina e Rui); 19:00 Atendi 1 par de noivos (Patrícia e Alberto); 20:00 Jantei uma sopa aquecida e fruta; São estes alguns dos números que fizeram este meu dia que ainda não terminou; números duros, difíceis, caros, longos, agradáveis, motivadores e vice-versa de tudo o que uma vida é e potencia. Que em todos eles Deus seja louvado!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Festa do alvarinho e do fumeiro

Por estes dias, Melgaço foi a capital do vinho alvarinho e do fumeiro! Centenas de pessoas passaram pelo recinto da feira para beber, comer, dançar, no fundo, fazer festa ou aproveitar a festa .
Eu também fui à festa e fiquei-me pelo provar de alguns vinhos e algum presunto (dançar não sei!). De facto foi uma grande festa. Encontrei muitos colegas de Seminário que não via há muito tempo; conversamos e bebemos ao som da multidão.
Por outro lado, vi muitas pessoas conhecidas e em muitos rostos parecia ver a identificação de um criminoso, de alguém que estava fora do seu lugar. E elas não têm culpa, ou pelo menos, não a têm toda! Porque se abituram ou foram habituadas a ver o padre apenas dentro da igreja e de sotaina e extrapolaram isso para as suas vidas, isto é, a religião e a fé vivem-se dentro da igreja (onde está o padre). Acontece que os tempos e as mentalidades mudaram ou têm que mudar! A fé a religião vivem-se dentro da igreja e fora dela. O padre é padre na igreja e fora dela. E cada um, onde se encontra, tem que expressar, sem fazer alarido, a sua fé e as suas convicções. Assim se constrói igreja e se fazem cristãos!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Na cozinha

Um padre também come! E se não tem quem cozinhe tem que cozinhar (que remédio!). E hoje foi um dos dias em que cozinhei. Tinha decidido que ia fazer uma sopa mas mudei de ideias e optei por fazer um arroz seco e uma pescada cozida em tomate a acompanhar. O acto de cozinhar acaba por ser, sempre, um manancial de cheiros e de cores. O azeite, a cebola e o tomate fazem delícias na boca, na panela e no nariz. Que bom!
Quando cozinho sinto mais prazer em fazê-lo que em comer. Quando tenho tudo pronto na mesa (para comer) parece que já perdi o apetite. Comer sozinho numa mesa que têm seis cadeiras é dos actos mais dramaticos que se pode ter. Comer é um acto comunitário e fazê-lo sozinho parece contraditório e até 'imoral'. Haverá maior solidão que uma pessoa sozinha a almoçar ou a jantar? Creio que não!
Ser padre, em muitas circunstâncias, é viver na solidão, por muito que não pareça. Contactamos com muita gente mas chegamos a casa e não encontramos ninguém; vamos a um restaurante e parodoxalmente estamos sozinhos numa mesa para mais dois ou três e rodeados de 'muitos' dois, três ou quatro; Queiramos ou não é assim! Uma solidão permanentemente acompanhada (acreditamos).