quinta-feira, 8 de outubro de 2009

'De produndis' de António Lobo Antunes

Lobo Antunes escreveu para a Revista Visão, esta semana, uma crónica que intitula 'De profundis'. Esta crónica, como muitas outras que li de Lobo Antunes, fez-me pensar! O autor faz uma abordagem à sua relação com Deus; curiosamente, a distância com que escreve mostra a proximidade com Deus. Lobo Antunes mostra uma relação de proximidade numa luta diária com Deus (Miguel Torga, outro grande homem da nossa literatura, pisou, talvez de forma mais dolorosa, os mesmos caminhos que Lobo Antunes na proximidade e no afastamento de Deus).
E cito: "A minha relação com Deus tem sido sempre tumultuosa, cheia de desacordos e discussões: longos períodos em que me afasto, alturas em que me aproximo, amuos, quase insultos, discussões. Creio firmemente que, nos livros que escrevo, é Ele que guia a minha mão e não passo de um instrumento da Sua vontade".
Outras partes da crónica poderia citar ou então transcrevê-la toda mas fico-me por este parágrafo que me parece fantástico.
Lobo Antunes, para mim, é um grande homem das letras e dos livros mas os seus livros não os consigo ler; são duros, demasiado introspectivos, sei lá, quase esquizofrénicos e por isso não leio; por outro lado, estas crónicas são fantásticas quando ele fala dele próprio e das suas vivências e ouvi-lo é muito bom - mostra humildade e erudição (saber) coisa que muito aprecio.
Peguei neste texto porque ilustra bem como tem que ser uma relação sincera com Deus e com a própria pessoa - uma luta diária e não um adormecimento diário; Deus, a religião e a fé não anestesiam a pessoa antes a potenciam e a elevam na sua dignidade e compreensão do mundo e de si mesma. O pecado não está na dúvida, na luta, na angústia mas no adormecimento, no esquecimento e no relativismo face a Deus e à humanidade.

2 comentários:

  1. Interessante sem dúvida! concordo plenamente consigo, como é que (Lobo Antunes) consegue dizer tanto, em tão poucas palavras? nós não passamos de instrumentos nas mãos de" NOSSO SENHOR" com ele temos tudo, sem ele não temos nada, não nos devemos esquecer nem adormecer em relação a isso.Bem-Haja

    ResponderEliminar
  2. Partilho inteiramente da sua opinião...adoro as crónicas mas não consigo ler os livros!
    De facto a convivência destes homens das artes com Deus nem sempre é fácil, Lobo Antunes, Miguel Torga...Saramago.
    Não podia ouvir falar Saramago, era um homem amargo, revoltado...mas escrevia de forma arrojada e brilhante! Ele afirmava que não acreditava em Deus mas a verdade é que este tema nunca lhe foi indiferente, persegui-o na maior parte das suas obras.

    ResponderEliminar